É a hora de nós, amazônidas, mostrarmos que sabemos cuidar do maior tesouro brasileiro.

O aumento do desmatamento na Amazônia a níveis imorais a partir de 2019 acabou estimulando a criação de diversos movimentos, grupos e iniciativas no país para discutir soluções para a região. No entanto, uma reflexão frequente que ouço (e que também faço) é sobre a ausência ou baixo número de participantes amazônidas em tais espaços.

Como alguém que nasceu e mora na região, esta é uma preocupação legítima. Afinal, muitas das recomendações de melhoria de serviços públicos e de negócios sustentáveis que surgem nessas discussões vão depender do engajamento da população local e precisam considerar a realidade de quem vive aqui. 

Victor Moriyama/Amazônia em Chamas
Vista aérea de foco de desmatamento e queimada na Amazônia para expansão pecuária, em Porto Velho, Rondônia.

Neste segundo semestre de 2022, todos os amazônidas têm uma oportunidade concreta de dar o troco nessa ausência de participação nas discussões sobre nossa região e mostrar o valor da nossa contribuição: vamos eleger bancadas de parlamentares comprometidos com o desenvolvimento sustentável nos estados da Amazônia! Eleger uma bancada pró-sustentabilidade é a contribuição mais importante que cada um de nós amazônidas pode fazer nesse momento de nossas vidas. 

Os próximos 4 anos serão cruciais para determinar se o Brasil conseguirá cumprir suas metas de redução de emissões de gases do efeito estufa até 2030.

Reduzir o desmatamento, ou melhor, zerar o desmatamento é parte essencial desse compromisso, pois responde pela maior fatia das emissões brasileiras. Mas qual a relação entre cumprir essa meta e eleger uma bancada parlamentar pró-sustentabilidade na Amazônia?

Desde que comecei a escrever colunas aqui no PlenaMata, tenho abordado diversos exemplos de projetos de lei no Congresso Nacional e de novas leis aprovadas nas Assembleias Legislativas estaduais na Amazônia que podem gerar mais destruição das nossas florestas. É o caso, por exemplo, dos projetos de lei da grilagem de terras ou do (des)licenciamento ambiental. Na esfera estadual, lembro da redução de unidades de conservação em Rondônia, que felizmente foi revertida posteriormente pelo judiciário. 

Vale também escutar o Podcast Tempo Quente, no qual a jornalista Giovana Girardi analisa vários casos de leis aprovadas na última década com impacto negativo em políticas climáticas no Brasil.

Por isso, se elegermos parlamentares que aprovam leis antiambientais, nossa chance de cumprir metas climáticas ficará cada vez menor. 

É evidente que o Poder Executivo tem peso grande na desconstrução de políticas e de instituições ambientais que estamos presenciando no país nos últimos 3 anos. Mas além de elegermos presidente e governadores pró-meio ambiente, precisamos que nossas bancadas de parlamentares na esfera federal e estadual na região sejam compatíveis com o enfrentamento da emergência climática que vivemos. 

E como saber se a candidata ou candidato não vai jogar contra o meio ambiente? Há algumas iniciativas que podem ajudar nessa avaliação. Por exemplo, se você pretende votar para reeleger alguém que atualmente ocupa vaga no Congresso Nacional, há análises indicando como os atuais parlamentares votaram em projetos de lei que afetam a agenda ambiental. É o caso do Monitor do Congresso, do site ((o)) eco. Ele analisa a votação de cinco propostas nocivas ao meio ambiente aprovadas pela Câmara dos Deputados.

Neste agosto, também será lançado o Painel Farol Verde. Além de trazer avaliação desse tipo de votação, mostrará o resultado de pesquisa sobre temas socioambientais com candidatas e candidatos à reeleição no parlamento federal. Essa é uma iniciativa do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), em parceria com o Grupo de Trabalho Socioambiental da Rede de Advocacy Colaborativo (RAC) e várias organizações socioambientais.

Há também a Campanha Indígena da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) que está reunindo informações de candidatas e candidatos indígenas em todo o país. 

Mas se você pretende votar em alguém que ainda não ocupou cargos no legislativo ou não encontrou esse tipo de avaliação para a esfera estadual, vale lembrar que estamos na era das redes sociais. Use seu poder de fala e questione candidatos em seus perfis sobre temas como demarcação de terras indígenas, desmatamento na Amazônia, destruição de equipamentos usados na prática de crimes ambientais, apenas para dar alguns exemplos. Faça isso mesmo se o seu candidato não for atuante no tema ambiental. Afinal, se eleito, terá que votar em matérias diversas.

Essa é a hora de nós, amazônidas, mostrarmos que sabemos cuidar do maior tesouro brasileiro. Vamos eleger bancadas parlamentares pró-sustentabilidade na Amazônia e, depois, acompanhar e cobrar que os parlamentares eleitos atuem de forma compatível com a conservação e bem estar da população na região.


Os artigos de opinião são de responsabilidade do seu autor.


Este texto faz parte de uma série de artigos com o tema “O que eu posso fazer pela Amazônia?”. Leia também o que dizem os outros colunistas do PlenaMata sobre o assunto:

Sobre o autor

Advogada, mestre e doutora em Ciência do Direito pela Universidade Stanford (EUA). Nascida e residente em Belém (PA), é pesquisadora associada do Imazon, atuando há 18 anos para o aprimoramento de leis e políticas ambientais e fundiárias para conservação da Floresta Amazônica.