Um país rachado ao meio prejudica a Amazônia.

A primeira coluna que escrevi após terem sido definidos os resultados das eleições presidenciais de 2022 começou com a palavra “alívio”. Lembro de tê-la escolhido cuidadosamente. A sensação de alívio era genuína, mas coexistia com o receio de que a euforia que via à minha volta não durasse muito.

É verdade que o primeiro semestre da gestão federal trouxe notícias animadoras. Fundo Amazônia reativado (e turbinado!), participação ativa da sociedade civil na política pública, forte retomada da atuação da fiscalização, relançamento e modernização do PPCDAm, belos discursos reafirmando o compromisso do país com a conciliação entre crescimento econômico e proteção ambiental…

Mas a realidade se impõe. E a realidade é que a atual gestão federal não representa as preferências da vasta maioria da população brasileira. Lula venceu por muito, muito pouco e não tem hoje nem o apoio nem o apelo dos seus governos anteriores. É bem menor também sua capacidade de mobilizar um Congresso alinhado a pautas conservadoras.

Isso já era esperado na época das eleições, mas se manifestou de forma mais concreta nos recentes movimentos para enfraquecer o Ministérios do Meio Ambiente e das Mudanças Climáticas e o Ministério dos Povos Indígenas, ambos importantes símbolos do projeto que o governo alegava defender quando eleito — proteção da floresta, respeito aos povos tradicionais, desenvolvimento sustentável para a Amazônia.

O fato é que virtualmente metade dos eleitores brasileiros não apoiou esse projeto. Brasileiros do agronegócio, da Faria Lima, do setor de petróleo, mas também de segmentos vulneráveis da população que percebem a proteção da floresta como uma ameaça imediata àquilo que conhecem como seus meios de vida, pessoas em áreas urbanas que não se sentem conectadas à Amazônia… Enfim, um grupo enorme e muito diverso.

A afirmação pode ser óbvia, mas é crucial para a Amazônia. Afinal, para que propostas prosperem em uma democracia funcional, precisam de apoio popular. Leia-se: uma parte expressiva desses 58 milhões de brasileiros precisa se convencer de que a proteção e o desenvolvimento sustentável da Amazônia importam para eles.

Isso exigirá uma mudança de mentalidade. Informação, diálogo e tempo são insumos necessários para que essa mudança ocorra…. e o tempo já não joga a nosso favor. As pessoas precisam conhecer a realidade amazônica, compreender a urgência da crise climática e como isso as afeta, enxergar o papel central do governo e das políticas públicas no enfrentamento dessa crise. Elas precisam se envolver com a Amazônia.

Isso exigirá uma mudança de mentalidade. Informação, diálogo e tempo são insumos necessários para que essa mudança ocorra…. e o tempo já não joga a nosso favor. As pessoas precisam conhecer a realidade amazônica, compreender a urgência da crise climática e como isso as afeta, enxergar o papel central do governo e das políticas públicas no enfrentamento dessa crise. Elas precisam se envolver com a Amazônia.

Clarissa Gandour

Já falamos sobre isso antes aqui, mas o assunto permanece de primeiríssima ordem. É a partir dele que devemos construir a estratégia para promover essa mudança de mentalidade coletiva e, consequentemente, de atuação. Sem isso, o país seguirá dividido sobre o tema, desperdiçando energia e tempo que seriam muito mais bem empregados na implementação de fato de um novo modelo de desenvolvimento sustentável para a Amazônia.


Os artigos de opinião são de responsabilidade do seu autor.

Sobre o autor

Doutora em Economia pela PUC-Rio e coordenadora de Avaliação de Política Pública para Conservação no Climate Policy Initiative/PUC-Rio. Sua pesquisa avalia efetividade e impacto de políticas públicas de proteção florestal.
E-mail: [email protected]

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