Coordenação estratégica pode ajudar o público amplo a navegar o enorme volume de informação que existe sobre a Amazônia.

Nunca se falou tanto sobre a Amazônia. No debate público, na política, nos jornais, nas universidades, nas redes sociais, nas empresas, nos encontros de família, nas rodas de conversa entre amigos. O país e o mundo (finalmente!) adotaram um olhar um pouco mais atento para sustentabilidade, clima e meio ambiente. Não que esses sejam os únicos aspectos relevantes da e para a Amazônia, mas, dada a urgência da crise climática, serviram para colocar a região nas principais pautas diplomáticas, políticas e econômicas.

O aumento na popularidade e, consequentemente, na capilaridade do tema é uma mudança bastante recente. Há pouco mais de uma década, quando comecei a pesquisar políticas de conservação na Amazônia, eu era chamada de “economista hippie” por colegas. Atualmente, muitos deles me procuram para conversar, com genuíno interesse em aprender sobre o tema.

A consequência desse boom de interesse é que hoje existe um enorme volume de informação sobre a Amazônia. Até para quem trabalha diretamente com o tema e, portanto, dedica muitas horas do dia a ele, é quase impossível acompanhar o ritmo de geração e disseminação dessa informação, que dirá separar o joio do trigo.

Não me levem a mal. Ter muito mais gente hoje do que havia no passado pensando, debatendo, trocando experiências sobre a Amazônia é incrível, é rico, é plural. Mas não é algo que se processe com facilidade. Até que ponto conseguimos (na primeira pessoa do plural mesmo, pois o ponto vale para todos nós) transformar tanta informação em conhecimento?

Ainda que o processo de construção de conhecimento invariavelmente precise de um período de reflexão e amadurecimento para consolidar a informação consumida, me pergunto se não há formas de catalisar esse processo quando falamos da Amazônia. Até porque, como já expressei antes, considero que uma compreensão mais robusta e ampla sobre a região é condição necessária para que se avance com o desenvolvimento socioeconômico justo por lá.

Comunicação — clara, acessível, estratégica — é uma parte crucial da história, sem dúvida. Mas hoje proponho considerar um outro aspecto também fundamental e, em muitos sentidos, associado: coordenação. Esforços coordenados podem trazer ganhos de escala, escopo e foco. Podem ajudar a consolidar informações afins, conectar capacidades complementares, potencializar mensagens que, isoladamente, não teriam tanto alcance. Em essência, a coordenação institucionaliza a ideia de que, juntos, somos mais fortes.

Esforços coordenados podem trazer ganhos de escala, escopo e foco. Podem ajudar a consolidar informações afins, conectar capacidades complementares, potencializar mensagens que, isoladamente, não teriam tanto alcance. Em essência, a coordenação institucionaliza a ideia de que, juntos, somos mais fortes.

Clarissa Gandour

Coordenar não é sem custo, é verdade. Aspectos de organização, planejamento, gestão e sistematização consomem tempo, recursos financeiros e pessoais. Mas suspeito (não tenho números para afirmar com propriedade) que o benefício coletivo — mensagens coesas e claras, boas iniciativas implementadas em escala, colaboração em vez de competição entre pares com habilidades complementares, dentre outros — em muito superaria o custo.

Mesmo assim, a coordenação raramente acontece de forma orgânica e espontânea. São bem-vindos, portanto, os incentivos para impulsionar o processo. Ainda mais quando há tantas frentes de cooperação simultâneas: entre nações, entre níveis e órgão do poder público, entre iniciativas da sociedade civil. A Cúpula da Amazônia, que ocorre agora em Belém, é um exemplo: um espaço para que as nações que abrigam a Amazônia se reúnam para identificar interesses comuns e coordenar esforços. É, ao menos, um passo na direção certa.

Torço para que o interesse pela Amazônia não seja apenas um modismo ou um recurso de greenwashing. Precisamos que o tema seja mesmo popular e mobilize mentes — não apenas em grande número, mas com grande diversidade — para gerar e disseminar informação. Torço ainda para que consigamos aumentar a coordenação entre aqueles que atuam no tema para estabelecer um canal de comunicação mais efetivo com o público amplo e, assim, acelerar o processo de consolidação de conhecimento sobre a Amazônia.


Os artigos de opinião são de responsabilidade do seu autor.

Sobre o autor

Doutora em Economia pela PUC-Rio e coordenadora de Avaliação de Política Pública para Conservação no Climate Policy Initiative/PUC-Rio. Sua pesquisa avalia efetividade e impacto de políticas públicas de proteção florestal.
E-mail: [email protected]

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