Pesquisadores da Unesp estudam biomarcadores que podem constatar a presença do metal, usado em garimpos ilegais na Amazônia, em animais e pessoas

Além da escancarada devastação que causa nas áreas onde se instala, o garimpo ilegal produz um inimigo silencioso, capaz de atingir pessoas a milhares de quilômetros de distância: o mercúrio. O metal, usado na extração criminosa de ouro, é carreado para os rios, onde contamina peixes que, depois, são consumidos por seres humanos.

Esse ciclo é evidente na Amazônia, onde os pescados são parte importante da alimentação. Recentemente, um estudo da ENSP/FIOCRUZ, Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Greenpeace, Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé), Instituto Socioambiental (ISA) e WWF-Brasil constatou que 21,3% dos pescados continham mais mercúrio do que os limites estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde e a Agência de Proteção Ambiental dos EUA. Um perigo real para a saúde humana.

Um grupo de pesquisadores coordenados pelo professor Pedro de Magalhães Padilha, do Instituto de Biociências da Unesp/Botucatu, vem estudando métodos para identificar a presença de mercúrio nos organismos. Com uma técnica que integra métodos bioquímicos e químicos, eles buscam maneiras de encontrar potenciais proteínas que sirvam como biomarcadores do metal. Assim, é possível não apenas apontar a contaminação como também identificar e localizar as proteínas nas quais o mercúrio está presente, explica a Agência FAPESP.

A motivação para a pesquisa, conta Padilha, é a facilidade com que o mercúrio é absorvido pela vida aquática, e o risco que isso implica para os amazônidas, destaca o Gizmodo. “O consumo de peixes representa a principal fonte de contaminação por mercúrio para as Populações Tradicionais, que têm o pescado como a principal fonte de alimentação proteica. Esse conhecimento possibilitaria a adoção de ações preventivas, prevenindo o adoecimento e gastos significativos com saúde.”

A técnica, chamada metaloproteômica, surgiu no início dos anos 2000 no Japão, um dos maiores consumidores de pescados do planeta. No Brasil, chegou em 2004, e desde então vem sendo aprimorada. A metodologia identifica os conjuntos de proteínas (conhecidos como proteomas) e verifica os metais, como ferro, cobre ou mercúrio, capazes de se ligar com proteínas ou enzimas.

Desde 2011, o professor da Unesp passou a aplicar esse conhecimento na busca por proteínas que poderiam atuar como possíveis biomarcadores de mercúrio nos peixes do rio Madeira. O estudo vem sendo desenvolvido com auxílio da FAPESP e da Jirau Energia), empresa responsável pela hidrelétrica de Jirau, que começou a operar em 2013.

“O Madeira tem um histórico bastante conhecido de contaminação por mercúrio derivado das atividades de garimpo. Esse foi um dos motivadores para selecionarmos esta região para a pesquisa”, conta Padilha.


Este conteúdo pode ser republicado livremente em versão online ou impressa. Por favor, mencione a origem do material. Alertamos, no entanto, que muitas das matérias por nós comentadas têm republicação restrita.

Aqui você encontra notícias e informações sobre estudos e pesquisas relacionados à questão do desmatamento. O conteúdo é produzido pela equipe do Instituto ClimaInfo especialmente para o PlenaMata.

Se você gostou dessa nota, clique aqui e assine a Newsletter PlenaMata para receber o boletim completo diário em seu e-mail.