O governo intensifica o combate à atividade garimpeira ilegal na Amazônia, mas os criminosos desenvolvem estratégias para fugir do cerco. E o mercúrio usado na extração ilegal de ouro flui pelas águas e contamina peixes em seis estados da região
Na semana passada, a Operação Ágata, com efetivos das Forças Armadas e agentes do IBAMA, apreendeu e destruiu ao menos 29 embarcações utilizadas pelo garimpo ilegal no Amazonas. Segundo o órgão ambiental, as dragas custavam entre R$ 600 mil a R$ 7 milhões cada – um prejuízo de quase R$ 49 milhões aos garimpeiros.
Não se pode negar o esforço do governo Lula no combate ao garimpo ilegal na região amazônica. Entretanto, sabe-se também que organizações criminosas de grande porte, como o PCC e o Comando Vermelho, estão por trás dessa ilegalidade. E os bandidos desenvolveram estratégias para fugir ao cerco das forças de segurança.
Segundo a Folha, garimpeiros, funcionários do governo e pessoas ligadas ao tráfico de ouro estimaram haver cerca de 150 dragas operando no rio Puruê e seus afluentes e outras 150 no vizinho rio Juami, que passa pela Estação Ecológica Juami-Japurá, uma Unidade de Conservação do governo federal no Amazonas. Portanto, a operação teria queimado apenas 10% do número de dragas que operam ali.
Apesar de sua localização remota, o Puruê atrai trabalhadores pobres e com pouca educação formal, detalha a Folha. Desde a jornada de trabalho até refrigerantes, passando pela prostituição, tudo ao longo desse rio é cotado em ouro. Por isso, os garimpeiros ilegais ainda são alvos de piratas, especialmente na viagem da área onde as dragas estão até Japurá, a cidade mais próxima da região mineradora, onde garimpeiros se abastecem e vendem as pedras preciosas.
A região de Japurá, onde ocorre garimpo ilegal e foi realizada a operação de repressão, é considerada uma das mais perigosas e violentas da Amazônia, destaca o BNC Amazonas. A atividade garimpeira atrai grupos criminosos, tornando a região um foco de insegurança. O garimpo causa danos ambientais significativos, como a poluição por mercúrio.
E esse metal usado na extração ilegal de ouro vai parar nos rios e está contaminando os peixes da Amazônia e indo parar diretamente no organismo das pessoas. É o que mostra um estudo de pesquisadores da Ensp/Fiocruz, Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Greenpeace, Instituto de Pesquisa e Formação Indígena (Iepé), Instituto Socioambiental (ISA) e WWF-Brasil.
Os cientistas coletaram 1.010 peixes de 80 espécies diferentes, em 17 municípios de seis estados amazônicos – Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima – em “mercados públicos, feiras-livres ou com pescadores nos pontos de desembarque pesqueiro” entre março de 2021 e setembro de 2022. E constataram que 21,3% dos pescados, em média, continham mais mercúrio do que os limites determinados pela Organização Mundial de Saúde (de 5 microgramas por quilo) e da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (1 micrograma por quilo).
A pior situação foi encontrada em Roraima, onde 40% dos peixes pesquisados estavam contaminados, informa o Metrópoles. Já o menor percentual de contaminação dos pescados por mercúrio foi registrado pelos cientistas no Amapá (11,4%).
Duas cidades do estado do Amazonas também se destacaram, por apresentar 50% de peixes contaminados: Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira. Os dois municípios registram uma significativa população de origem indígena.
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