Devastação da Floresta Amazônica cai quase 50% no ano, mas região se consolida como o bioma com maior área de pastagens do Brasil

Em meio a uma seca sem precedentes que vem causando tragédias ambientais e humanitárias e tende a piorar, a Amazônia registra dois números contraditórios e que têm relação direta com o desastre climático que ocorre atualmente na região. De um lado, o sistema DETER, do INPE, registrou queda de 57% no desmatamento em setembro e uma redução acumulada de 49,5% de janeiro a setembro sobre períodos iguais do ano passado. De outro, a área de pastagem na Amazônia cresceu mais do que no Cerrado pelo segundo ano consecutivo em 2022, consolidando a região como o bioma com mais terras destinadas ao gado em todo o país.

Até o dia 29 de setembro – data da última atualização realizada pelo INPE nos números –, o órgão registrou alertas de desmatamento para 590,3 km² na Amazônia. Com isso, setembro foi o sétimo mês consecutivo de queda no número de alertas, lembra ((o))eco. Somente em fevereiro o desmate teve alta sobre igual mês de 2022.

Entre janeiro e setembro deste ano, a área destruída na Amazônia Legal totaliza 4.302 km². É pouco mais da metade dos 8.590 km² registrados nos primeiros nove meses de 2022, informa a Carta Capital.

Entre as medidas contra o desmatamento no bioma de janeiro a setembro, o IBAMA aumentou em 139% os autos de infração por crimes contra a flora em relação à média para igual período nos últimos quatro anos. Os embargos cresceram 98%; as apreensões de bens, 76%; e as destruições de equipamentos usados em crimes ambientais, 145%. Também houve a apreensão de mais de 4,5 mil cabeças de gado, 30 aeronaves e 36 toneladas de cassiterita, bem como o bloqueio de 2 milhões de metros cúbicos de créditos virtuais fraudulentos no sistema de controle de produtos florestais, e operações em 85 Terras Indígenas.

A retomada das ações de fiscalização por parte do governo federal, contudo, não são capazes de alterar o estrago já provocado na Floresta Amazônica. Exemplo disso é que em 2022, pelo segundo ano consecutivo, a região superou o Cerrado no crescimento de terras destinadas a pastagem. E se consolidou como o bioma brasileiro com mais terras destinadas ao gado, mostra levantamento do MapBiomas.

De 1985 a 2022, o espaço tomado por pastos saltou de 137 mil km2 para 577 mil km2 em toda a Amazônia. É como se, nestes 38 anos, a área dedicada ao gado saísse de um território equivalente ao estado do Amapá e passasse a uma Minas Gerais, explica o DW.

Quase metade dos pastos na Amazônia Legal são recentes, com menos de 20 anos. O bioma concentra a maior parte (43%) do rebanho bovino do país, com mais de 96 milhões de cabeças de gado – o triplo do número de moradores –, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Foi na pata do boi que a gente viu este grande maciço de floresta ser comido pelas beiradas e virar a maior área de pastagem do Brasil”, analisa Ane Alencar, diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).


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