Estiagem extrema e atípica provoca baixa histórica em rios amazônicos, deixa comunidades sem água e alimentos e provoca morte em massa de peixes e botos

A combinação entre mudanças climáticas e El Niño vem fazendo o período de estiagem na Amazônia, que costuma começar em setembro, ser mais grave e dramático do que o habitual. Grandes rios amazônicos vêm registrando baixas históricas, e numa velocidade incomum. A seca extrema prejudica o abastecimento de água para consumo e a navegabilidade dos rios, dificultando também a entrega de alimentos e remédios em várias localidades. E para piorar ainda mais a situação, com pouca água e muito calor, vem aumentando também a morte de peixes e botos.
“Tem muita gente já com dificuldade para ter acesso a alimentos, segurança alimentar, água potável e outros insumos que são importantes. Temos dificuldades porque é exatamente por esse rio [Amazonas] que chegam os insumos, a matéria-prima para a Zona Franca [de Manaus] e também por onde saem os produtos acabados”, disse o governador do Amazonas, Wilson Lima.
A gravidade da seca fez o governo amazonense decretar situação de emergência no estado, informa o Poder 360. Segundo a Defesa Civil do Amazonas, 19 municípios das calhas do Alto Solimões, Baixo Solimões, Juruá, Médio Solimões e Purus estão em situação de emergência, afetando 174,7 mil pessoas. Outras 36 cidades estão em alerta e 5 em estado de atenção.
Dados da Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados e Contratados do Amazonas (ARSEPAM) mostram que 90% das 136 embarcações que atuam nas 116 linhas de transporte hidroviário do estado têm algum tipo de restrição. Com isso, o transporte de cargas opera com 50% da capacidade, e o de passageiros, com 45%.
Pior que a restrição no transporte é a falta de água para consumo em várias cidades do Amazonas. A confeiteira Laila Ramos, de 35 anos, moradora de Jutaí, contou ao Metrópoles que só consegue cozinhar e fazer as encomendas à noite, uma vez que não há água na cidade durante o dia.
“A água só vem à noite e bem fraquinha. A gente precisa limpar, lavar as coisas. Isso tem prejudicado geral. Hoje [ontem, domingo, 1/10], por exemplo, vou dormir lá pelas 2h da manhã, porque preciso produzir, tenho de deixar tudo pronto e limpar as coisas no horário que a gente tem água”, detalhou.
Além da falta de água, a confeiteira disse que sente os efeitos da seca no preço dos alimentos. De acordo com ela, o tambaqui, peixe de água doce e comum na região, está mais caro. “O tambaqui é um peixe maior, comprei por R$ 150 e, antes, custava uns R$ 80. Aumentou bastante [o preço]”, lamentou.
A fauna amazônica também sofre com a estiagem, e animais estão morrendo pela combinação entre pouca água e calor extremo. Nas redes sociais, circularam diversos vídeos mostrando trechos de rios amazônicos com centenas de peixes mortos. E às margens do rio Tefé, no Amazonas, mais de 100 botos e tucuxis foram encontrados mortos.
Segundo o Um só planeta, organizações como o Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá estão correndo contra o tempo para tentar transferir botos e tucuxis ainda vivos em poças rasas para locais com profundidade mínima para sua sobrevivência.


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