Estudos apontam que acesso a profissionais de saúde na Amazônia é três vezes menor do que no resto do país e que há plástico em peixes do Médio Solimões

Uma das maiores expectativas em relação à preservação da Floresta Amazônica e ao desenvolvimento de uma economia baseada na “floresta em pé” é a inclusão social das populações amazônidas. Essa inserção inclui a oferta de serviços de saúde de qualidade e a segurança alimentar. Pesquisas recentes mostram que há muita urgência nesses dois quesitos.

Um levantamento do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS) constatou que o acesso a profissionais da saúde na Amazônia, sobretudo a especialistas como cardiologistas e oncologistas, é três vezes menor em relação ao restante do país. 

“No Brasil, as desigualdades regionais marcam o sistema de saúde. Na Amazônia Legal, especificamente no estado do Pará, essa questão se aprofunda e impacta, principalmente, grupos e segmentos sociais, como populações quilombolas, indígenas e ribeirinhas”, destaca a consultora do IEPS e conselheira de Médicos sem Fronteiras (MSF) Brasil, Isabela Ramos, em artigo na Folha.

Dentistas, enfermeiros, nutricionistas e psicólogos também são considerados escassos, mostrou uma consulta de atores locais feita em campo, em março deste ano, pelo Projeto Saúde na Amazônia, parceria entre o IEPS e o Instituto Clima e Sociedade (iCS).

A escassez de profissionais da saúde na Amazônia está relacionada a diferentes causas, explica Ramos, como as condições de trabalho, infraestrutura, financiamento e disponibilidade de acesso à região. Há ainda a dificuldade dos profissionais de entender as demandas típicas de saúde da região amazônica.

Santarém, no oeste do Pará, é um exemplo das desigualdades na saúde na Amazônia, pontua a consultora do IEPS. O município tem áreas urbanas, de planalto e de rios, que impactam o acesso das equipes de saúde. As distâncias são muito significativas, sobretudo para serviços de urgência e emergência, diálise e quimioterapia. Muitas unidades de saúde têm dificuldade para conservar medicamentos, e apenas 49% delas têm conexão à internet, lista o BNC Amazonas.

Em 2021, o número de médicos por mil habitantes em Santarém era de 1,2 – bem abaixo da média nacional (2,1). Mas, tristemente, ainda é superior à maioria dos municípios do oeste paraense. Em Placas, Porto de Moz e Rurópolis, a relação é de parcos 0,2 médico por mil habitantes.

“Dada essa complexidade, há necessidade de refletir sobre modelos assistenciais de saúde que tenham condições de dialogar horizontalmente com os territórios amazônicos. São fundamentais ações que permitam incorporar saberes dos Povos Indígenas e Tradicionais, inovações locais nas linhas de cuidado, práticas voltadas ao financiamento climático e integração de tecnologias de saúde que possam transpor barreiras socioeconômicas, culturais e geográficas na expansão e melhoria da rede de serviços de saúde”, sugere Ramos.

Se o acesso à saúde na Amazônia é um grave problema, tão trágico quanto ele é a contaminação de peixes consumidos pelas populações amazônidas. Um estudo da Fiocruz e outras instituições já havia mostrado que um quinto dos pescados têm índices de mercúrio acima dos limites determinados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Agora, pesquisa do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM), encontrou plástico nas vísceras de peixes muito consumidos no estado.

Em entrevista à Rádio Nacional, a coordenadora do estudo, Carolina Gomes Sarmento, contou que foram analisadas seis espécies de peixes – Jaraqui, Aruanã, Tucunaré, Tambaqui, Sardinha e Pacu – na região do Médio Solimões. Dos 336 peixes analisados, 25 possuíam partículas de plástico em seu interior.

Apesar do número parecer relativamente pequeno, Sarmento explica que não deixa de ser preocupante, já que o plástico traz não só danos físicos aos animais, como também danos toxicológicos, podendo afetar a cadeia reprodutiva. Por isso, esses dados são importantes para nortear a tomada de decisões pelo poder público, com foco na redução do uso de plásticos e descarte correto desses materiais.


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