Relatório da Global Forest Watch confirma a devastação que o governo passado causou nas florestas tropicais brasileiras, em particular na Amazônia, que ainda sofre com agentes públicos acobertando o garimpo ilegal

O Brasil abriga 30% das florestas tropicais do planeta. Entretanto, no ano passado, o país respondeu por 43% do desmatamento das florestas primárias do globo. Dos 4,1 milhões de hectares (ha) devastados, equivalentes ao território da Suíça e do estado do Rio de Janeiro, 1,8 milhão de ha – o tamanho do Kuwait, no Oriente Médio – foram desmatados aqui. E majoritariamente na região amazônica.

Os números fazem parte do Global Forest Watch (GFW), do World Resources Institute (WRI), e foram divulgados na terça-feira (27/6). Se globalmente houve um aumento de 10% na devastação das florestas tropicais entre 2021 e 2022, no Brasil o crescimento foi maior, de 15%, na comparação anual. Foi como se cinco campos de futebol em florestas tropicais primárias fossem desmatados em território brasileiro a cada minuto do ano passado.

Em todo o planeta, a perda florestal produziu 2,7 gigatoneladas (Gt) de emissões de dióxido de carbono – o que equivale às emissões oriundas de combustíveis fósseis da Índia, o país mais populoso do mundo. Já no Brasil, a derrubada da vegetação gerou 1,2 Gt de emissões de CO2 – ou 2,5 vezes as emissões anuais de combustíveis fósseis do país.

A perda de floresta primária acelerou na Amazônia Ocidental, com Amazonas e Acre registrando seus maiores níveis de desmatamento em 2022, aponta o relatório. Lar de mais da metade das florestas intactas do Brasil, o Amazonas quase dobrou sua taxa de perda de floresta primária em apenas três anos. 

O documento destaca que as perdas de florestas primárias nesta parte da Amazônia brasileira são principalmente clareiras em grande escala – provavelmente para pastagens de gado – ao longo das rodovias existentes. Isso reforça o alerta sobre o asfaltamento do trecho do meio da BR-319, que liga Porto Velho, em Rondônia, a Manaus, capital amazonense, e que já ampliou o desmate na região.

A devastação no Brasil, em geral, e na Amazônia, em particular, tem nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro. O aumento significativo na perda de floresta tropical primária aconteceu durante o último ano de seu governo. O ex-presidente firmou compromissos irreais contra o desmatamento em cúpulas internacionais, enquanto seu governo “passou a boiada” e tentou legalizar práticas destrutivas e desmontar órgãos de monitoramento, proteção e fiscalização ambiental, como o IBAMA e o ICMBIO, lembra a Carta Capital.

“A reeleição do presidente Lula pode reverter essa tendência. Ele e seu governo prometeram acabar com o desmatamento na Amazônia e em outros biomas no Brasil até 2030, combinando ações de comando e controle com uma perspectiva de longo prazo em torno do desenvolvimento econômico sustentável. Não será uma tarefa fácil, com algumas autoridades alertando que pode não haver progresso visível até 2024, no mínimo, quando as agências de fiscalização forem reequipadas, e as atividades ilegais, investigadas”, destaca o documento do WRI.

O presidente Lula tem reiterado constantemente o compromisso de seu governo de zerar o desmatamento amazônico até 2030. Mas, de fato, a tarefa é árdua. A pecuária ainda é um grande vetor de devastação da Floresta Amazônica. Mas vem ganhando força a atuação na região de facções ligadas ao tráfico de drogas, como mostram a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em inglês). Criminosos que ameaçam as populações indígenas e tradicionais e estimulam atividades como o garimpo ilegal.

Para piorar a situação, o governo ainda precisa combater o apoio à ilegalidade dentro de sua estrutura. Caso do tenente-coronel do Exército Abimael Alves Pinto, suspeito de ser informante de garimpeiros que atuam na fronteira do Brasil com a Colômbia.

O tenente-coronel foi alvo de uma operação da Polícia Federal em Ponta Grossa (PR), a milhares de quilômetros da Amazônia. Áudios flagraram o militar alertando chefes dos garimpeiros sobre fiscalizações na região da Reserva Juami-Japurá (AM).De acordo com as investigações, Pinto prestou serviço no interior do Amazonas, mas, com as suspeitas que recaíam sobre ele, o Exército abriu um Inquérito Policial Militar (IPM) contra o tenente-coronel e o transferiu para o Paraná. Ainda assim, segundo a PF, o militar continuou repassando informações aos garimpeiros, informa o Correio Braziliense.


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