Brasil pode ser boa novidade na 27ª Conferência do Clima da ONU, já que governo Lula, agora eleito, tem o compromisso de zerar o desmatamento até 2030. No entanto, país ainda deve ter uma participação fraca.

A Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP27), que ocorrerá de 6 a 18 de novembro em Sharm el Sheikh, no Egito, acontece em um cenário econômico e geopolítico internacional muito desfavorável.

Estão entre os desafios: guerra na Ucrânia, dificuldades de fornecimento de energia na Europa, intensificação de disputas geopolíticas entre Estados Unidos e China, recessão econômica, governos de extrema direita assumindo na Itália e Suécia, e muitas outras dificuldades.

Por outro lado, com o aumento da frequência dos eventos climáticos extremos, fica claro que estamos em uma situação de emergência climática. Os países em geral estão muito longe de cumprir seus compromissos no Acordo de Paris, e as emissões continuam aumentando, apesar do IPCC reafirmar que temos que reduzir emissões a pelo menos 7% ao ano, e atingir neutralidade de emissões em 2050.

Com o aumento da frequência dos eventos climáticos extremos, fica claro que estamos em uma situação de emergência climática. Os países em geral estão muito longe de cumprir seus compromissos no Acordo de Paris, e as emissões continuam aumentando.

Paulo Artaxo, membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC)

China e a maior parte dos países desenvolvidos estão aumentando suas emissões, apesar dos investimentos em energias renováveis, e do crescimento econômico menor. Os subsídios governamentais aos combustíveis fósseis aumentaram no último ano, com destaque para a busca desenfreada da União Europeia por novos fornecedores de gás natural para substituir a Rússia. A situação na África é importante, pois combustíveis fósseis dominam largamente a produção de energia, e novas térmicas fósseis estão sendo adicionadas rapidamente. No caso da América do Sul, vimos as taxas de desmatamento na Amazônia subirem 70% durante o governo Bolsonaro, e a crise hídrica brasileira do ano passado fez o Brasil aumentar as emissões fósseis.

A COP27 vai ocorrer neste complexo cenário. Os países signatários do Acordo de Paris recentemente submeteram novos compromissos de redução. Mas, ninguém realmente acredita que estes compromissos serão cumpridos pelos países desenvolvidos ou em desenvolvimento.

O Brasil pode ser uma boa novidade na reunião, pois o novo governo Lula tem o compromisso de zerar o desmatamento da Amazônia em 2030. Tudo indica que as políticas necessárias para acabarmos com o desmatamento na maior parte de nossos ecossistemas serão implementadas. Mas também é fundamental zerar o desmatamento em países como o Congo e Indonésia, que junto com o Brasil representam cerca de 75% das emissões.

O Brasil pode ser uma boa novidade na reunião, pois o novo governo Lula tem o compromisso de zerar o desamamento da Amazônia em 2030. Tudo indica que as políticas necessárias para acabarmos com o desmatamento na maior parte de nossos ecossistemas serão implementadas.

Paulo Artaxo, membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC)

Uma das principais questões a serem discutidas é a implementação de um fundo para financiar a mitigação de emissões em países em desenvolvimento, e ajudar estes países a se adaptar às mudanças climáticas. A pressão política aumenta entre os representantes dos governos mais vulneráveis e grupos ativistas, que enxergam na intensificação recente de situações como ondas de calor, megainundações e incêndios florestais um chamado da própria natureza para que os negociadores finalmente coloquem essa questão na mesa.

Isso se refere aos chamados mecanismos de perdas e danos. Esse fundo seria financiado por doações dos países desenvolvidos, como no Fundo Climático Verde (GCF), mas também por outras fontes alternativas, como uma tributação internacional sobre os lucros das empresas de petróleo e gás. Os países mais ricos, por sua vez, seguem reticentes quanto a novos compromissos financeiros. Isso será uma discussão quente na COP27, e está na pauta da reunião.

Por todas essas questões, será uma reunião ainda mais difícil que a COP26 em Glasgow. A COP27 poderá ter surpresas, como sempre ocorre nestas mesas de negociação. O Brasil deverá ter uma participação fraca, pois temos um governo que sai e que não tem resultados positivos a apresentar. O setor privado brasileiro e as ONGs tiveram forte participação na COP26, e mostraram uma ótima dinâmica de nossa sociedade, que deverá ser fortalecido na COP27.


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Sobre o autor

Paulo Artaxo é professor do Instituto de Física da USP, membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC), da World Academy of Sciences (TWAS), e é vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

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