Projeto Jirau reúne indígenas e ribeirinhos do Amazonas na produção de peças e produtos sustentáveis com madeiras, cipós, cascas e frutos vendidas no país todo.

A Iniciativa

Quem é
projeto Jirau da Amazônia, iniciativa que promove o comércio eletrônico do artesanato de comunidades ribeirinhas e indígenas
Quem faz
comunidades artesãs na Amazônia, Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Associação Zagaia Amazônia, Fundo Amazônia (BNDES) e Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Amazonas
O que faz
mantém um canal para o comércio justo e nacional de produtos oriundos da biodiversidade da floresta tropical
Onde atua
do Amazonas para o Brasil

Nascido há cerca de dois anos e sustentado pela rica diversidade humana e ambiental da floresta tropical brasileira, o projeto Jirau da Amazônia vem colhendo resultados positivos em termos sociais, econômicos e ecológicos. A iniciativa uniu comunidades ribeirinhas e indígenas do Amazonas na criação e produção em pequena escala de acessórios, artesanatos e peças decorativas que unem beleza e design. Desde sua fundação, alia a melhoria da qualidade de vida das comunidades à conservação da natureza. Produtos com a essência da Amazônia são comercializados no país todo com planos de expansão para o exterior nos próximos anos. 

A parceria conseguiu ser resolver um gargalo logístico da região amazônica ao se aliar a um grande distribuidor do comércio eletrônico, a loja virtual Americanas.com. Para se ter uma ideia do enorme desafio que isso representa, de São Gabriel da Cachoeira a Manaus são quatro dias de barco. Por causa disso, o projeto mantém um centro de distribuição na capital amazonense com estoques pensados com antecedência. 

Para entender como isso acontece na prática, o PlenaMata conversou com Wildney Mourão, gerente de Empreendedorismo e Negócios Sustentáveis da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), entidade sem fins lucrativos e uma das apoiadoras do projeto Jirau da Amazônia, cujo nome remete ao tradicional suporte de madeira usado por ribeirinhos para pescar, armazenar alimentos ou itens domésticos.

PlenaMata – Quais são os principais resultados comerciais desde o lançamento da iniciativa, em meados de 2019?

Wildney Mourão – Já foram comercializados quase mil produtos para todos os estados brasileiros, com exceção do Amapá. Sete em cada dez clientes são da região Sudeste – sobretudo em São Paulo e no Rio de Janeiro –, seguida pelo Sul, Centro-oeste, Nordeste e Norte. As compras foram até agora de R$ 200 a R$ 250, por comprador, em média. Por enquanto o comércio é realizado apenas no Brasil, em feiras e na página das lojas Americanas (americanas.com), empresa parceira de outras iniciativas, como na implantação de energia solar para ribeirinhos. Mas há planos para expandir as vendas, por exemplo, para países europeus, onde há boa aceitação para produtos artesanais da floresta.

O projeto é fundamentado na construção de uma nova cultura empreendedora para a região. A Amazônia não pode seguir como uma mera fornecedora de insumos em grande escala, que irão gerar empregos e renda em outras regiões e não melhorar a vida das pessoas que vivem na floresta.

Wildney Mourão, gerente de Empreendedorismo e Negócios Sustentáveis da FAS

Quais são as ideias que fundaram o Jirau da Amazônia?

Tanto a Fundação Amazônia Sustentável quanto parceiros institucionais e comunidades artesãs sentiram que era possível dar uma escala empreendedora ao comércio que ocorria sobretudo em feiras regionais e nacionais de produtos que valorizam a floresta conservada. Junto a aliados como a Associação Zagaia Amazônia, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Amazonas e o Fundo Amazônia (BNDES), infelizmente desativado pelo governo atual, ampliamos e qualificamos a relação com os artesãos, capacitamos comunidades para melhorar qualidade, regularidade e durabilidade das peças, bem como manter um padrão mínimo, estruturar logística e o comércio eletrônico. 

Todas as pessoas ligadas ao projeto têm sua carteira de artesão, espécie de CNPJ que lhes permite emitir notas fiscais e ter outros benefícios. De forma geral, o lucro nunca foi o foco principal da iniciativa, mas sim dar visibilidade e escoamento a produtos feitos no coração e por populações da floresta.

Como foi a reação das comunidades ao verem suas peças vendidas na internet, por outras pessoas do país todo?

Elas não imaginavam que seu artesanato pudesse ser vendido por meio eletrônico e que tivesse tão boa aceitação. Mas quando viram as peças expostas sendo compradas por pessoas de todo o país, entenderam ainda mais a importância de produtos que agreguem qualidade, inovação, design e durabilidade, de produtos com história e valores típicos da Amazônia. Passados dois anos, todos têm mais confiança nas suas capacidades e no modelo de negócios.

Como conseguem manter contato, assegurar a produção e o transporte de itens desde comunidades que estão até 900 quilômetros de barco da capital Manaus, na região de São Gabriel da Cachoeira?

O Jirau da Amazônia agrega quase 400 artesãos de 28 comunidades indígenas e ribeirinhas, inclusive em unidades de conservação estaduais, como as Reservas de Desenvolvimento Sustentável Puranga Conquista, do Rio Negro, Amanã e Mamirauá, além da Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Negro. Pela realidade da logística na Amazônia, de São Gabriel da Cachoeira a Manaus são quatro dias de barco, a manutenção dos estoques no centro de distribuição na capital amazonense é pensada sempre com duas semanas de antecedência, mantendo uma semana para produção das peças e outra para transporte. Falta de energia e de comunicação têm sido enfrentadas com placas solares e outras tecnologias. Qualquer empreendedor na Amazônia precisa enfrentar desafios como esses. 

Há critérios para que artesãos participem do Jirau?

Sim. O projeto é inclusivo. Todos podem pleitear sua participação, mas o acesso depende da qualidade inicial dos produtos, de seu acabamento, beleza, durabilidade e outros parâmetros valorizados pelo mercado. Esses quesitos devem ser atendidos para que se possa conquistar e manter uma clientela. 

Uma das vencedoras do Prêmio Casa Vogue Design 2021, um dos mais prestigiados do país, a coleção de vasos Tumbira foi lançada por Manoel Garrido, artesão de uma comunidade na Reserva do Rio Negro, e apoiada pelo designer Marcelo Rosenbaum e pela arquiteta Fernanda Marques.

Como asseguram que as demandas comerciais não geram uma exploração excessiva da Amazônia? 

Na Amazônia, há um extrativismo sustentável e também um de grande escala. No Jirau são aproveitadas fibras, madeiras, sementes, cipós e outros materiais em quantidades que permitem a regeneração da floresta. As comunidades têm consciência de que se o manejo não respeitar a capacidade da floresta, podem perder mercado e sua renda extra. Se não deixar um pouco de açaí na palmeira, as aves não terão o que comer e nem dispersarão sementes na floresta, gerando novas árvores. Mais importante do que vender grandes quantidades é manter a qualidade de vida das pessoas e a saúde da Amazônia. É preciso respeitar as populações e seu território.

No que o Jirau se traduz em termos de modelo de desenvolvimento para toda a Amazônia? 

O projeto é fundamentado na construção de uma nova cultura empreendedora para a região. A Amazônia não pode seguir como uma mera fornecedora de insumos em grande escala, que irão gerar empregos e renda em outras regiões e não melhorar a vida das pessoas que vivem na floresta. 

Suas populações têm capacidade para agregar qualidade e valor a uma produção baseada na bioeconomia, que respeita a floresta. À medida que isso avança, as pessoas se observam cada vez mais como empreendedoras sustentáveis, têm melhores resultados socioeconômicos e de conservação. 

Percebem ser possível produzir artesanato e outros itens sem comprometer a vida e o futuro das pessoas e da floresta. Também é um modelo efetivo para que possamos combater a pobreza por meio da distribuição de renda em meio a um território extremamente rico em recursos naturais.

Como se engajar

Site da iniciativa
www.americanas.com.br/marca/jirau
Contatos
+55 92 4009-8900
[email protected]
Redes sociais
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Foto do alto mostra artesã sobre um jirau, tradicional suporte de madeira usado por ribeirinhos para pescar, armazenar alimentos ou itens domésticos. Fotos do topo e de Wildney Mourão: Loiro Cunha e Nicoly Nogueira.