O desmatamento em Terras Indígenas da Amazônia faz a floresta perder seu papel de armazenar carbono e, com isso, aumentar as emissões. Mas a agressão às populações originárias não é feita somente contra seus territórios. Também há ataques às suas culturas e até mesmo violência de gênero

Na semana passada, a Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgou um relatório que mostrou que a Amazônia foi palco de quase 60% dos conflitos por terra em 2022. A região concentrou 34 dos 47 assassinatos relativos a essas disputas. E, do número total de homicídios, as principais vítimas (38%) foram indígenas.

Mas, infelizmente, os atentados contra a vida são apenas uma das facetas da violência contra os Povos Originários. As agressões também envolvem a destruição das Terras Indígenas (TIs); o ataque às culturas tradicionais disfarçadas em tentativas de “conversão” a religiões; e mesmo a violência de gênero.

Juntamente com o garimpo ilegal, o desmatamento é o ataque mais visível aos indígenas. Mas, neste caso, reverte-se em um problema que ultrapassa as fronteiras das TIs e atinge todo o planeta, agravando a crise climática global.

É o que mostra uma pesquisa divulgada na revista Scientific Reports. Segundo o estudo, a devastação florestal em Terras Indígenas na Amazônia brasileira provocou a emissão de 96 milhões de toneladas de dióxido de carbono entre 2013 e 2021 e mudou o papel de “sequestrador de carbono” da floresta. Do total, 59% foram emitidos de 2019 a 2021, quando houve intensificação da devastação.

Os cientistas mostram que o desmatamento nas TIs foi de 1.708 quilômetros quadrados (km2), o que equivale a 2,38% de todo o desmate na Amazônia brasileira no período. Em 232 TIs analisadas, a devastação foi, em média, de 35 km2 ao ano – aumento de 129% entre 2013 e 2021. Considerando apenas de 2019 a 2021, o crescimento foi de 195%.

“Em números absolutos, a área devastada nas TIs pode parecer pouca, mas, como se trata de uma região destinada à proteção ambiental, a magnitude do impacto é muito maior. Além da perda de floresta, o desmatamento também serve de vetor de outros problemas para o interior dessas áreas, como o avanço de doenças e ameaças à sobrevivência de indígenas isolados. Um caso recente é o do Povo Yanomami, onde houve diversas mortes de indígenas após a entrada de garimpeiros”, disse à Agência FAPESP o professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e primeiro autor do artigo, Celso Silva-Junior.

Em relação às culturas dos Povos Originários, a ameaça vem do Islamismo. Se os católicos foram os primeiros a tentarem “converter” indígenas, seguidos posteriormente por protestantes, agora a “catequização” vem sendo feita por seguidores de Alá.

Abdulhakim Tokdemir é chefe de um grupo islâmico que, desde 2019, tem catequizado dezenas de crianças e adolescentes indígenas da Amazônia para seguir o Islã. Não há registro de islamização de indígenas antes disso na história do Brasil, ressalta o Metrópoles.

Além da doutrinação, os adolescentes indígenas são levados de suas comunidades, em São Gabriel da Cachoeira (AM), cidade que fica quase na divisa com a Colômbia e a Venezuela, e enviados para Manaus, com parada em São Paulo e destino final na Turquia, quando completam a maioridade. Pelo menos cinco indígenas já foram retirados do Brasil e levados para território turco de 2019 para cá.

O grupo islâmico que comanda a doutrinação se autointitula Associação Solidária Humanitária do Amazonas (ASHAM), e só se interessa por garotos indígenas. Nenhuma menina indígena foi levada pela organização.

O aparente desprezo por mulheres indígenas não é exclusividade da organização islâmica. E em alguns casos se desdobra em violência explícita. Um caso recente ocorreu no início de março, quando três mulheres líderes indígenas da Reserva Extrativista (RESEX) Tapajós-Arapiuns, no Pará, estavam sendo ameaçadas de morte por homens. “Se fossem homens que estivessem à frente das organizações [indígenas], talvez isso não tivesse acontecido. Estamos sendo ameaçadas e intimidadas por um bando de macho”, disse Auricélia Arapium, uma das vítimas.

“Se querem desestabilizar uma liderança ativa é só ir na família deles. A mulher é o nosso pilar. Então, um dos instrumentos de ataque nas questões da demarcação [de Terras Indígenas] é ir direto nas mulheres. Em alguns casos são jovens, adolescentes e muito novas”, explicou ao Correio Braziliense Dinaman Tuxá, coordenador da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).

A violência de gênero também pode estar carregada de transfobia. Essa é a principal suspeita da Polícia Civil do Maranhão ao investigar a agressão e o estupro sofridos por uma mulher transgênero da etnia Guajajara na aldeia Formigueiro, dentro da Terra Indígena Morro Branco, em Grajaú, a 570 quilômetros da capital, São Luís. O suspeito também é indígena e morador da comunidade, relata o g1.


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