No Dia Internacional da Mulher, três líderes que lutam pela preservação da Reserva Tapajós-Arapiuns e pelos direitos das comunidades da região têm de conviver com o machismo e são ameaçadas física e politicamente

Três mulheres que lutam pela preservação da Reserva Extrativista (RESEX) Tapajós-Arapiuns, no Pará, vêm sendo ameaçadas de morte. A RESEX – localizada ao sul da confluência dos rios Tapajós e Amazonas, próxima a Santarém – é alvo de pressão constante de madeireiros, interessados em explorar os seus mais de 600 mil hectares, uma área equivalente ao tamanho do Distrito Federal.

Maria José Caetano Maitapu, indígena do Povo Maitapu do Alto Rio Tapajós e atual presidente da Associação Tapajoara; Auricélia Arapium, indígena do Povo Arapium e coordenadora do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns (CITA); e Maria Ivete Bastos dos Santos, presidenta do Sindicato de Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares de Santarém (STTR), são citadas em áudios que circulam em grupos de WhatsApp com ameaças a lideranças indígenas da região.

Um dos áudios foi feito por um homem. Segundo o Amazônia Real, trata-se de um extrativista e pastor da comunidade “Prainha do Maró”, em Santarém, de nome Eldo. “Eu falei pra ela que se ela não cumprisse com a palavra dela, eu ia meter um projétil no miolo dela pra ela respeitar”, diz a gravação, que, de acordo com o site, é endereçada a Maria José Maitapu.

As ameaças surgiram após as três lideranças começarem a percorrer o território para explicar às comunidades a importância do protocolo de consulta prévia livre e informada, um instrumento da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). No caso da RESEX Tapajós-Arapiuns, esses protocolos vão servir de proteção legal às 85 comunidades – entre elas indígenas de vários Povos e extrativistas.

Em entrevista ao Amazônia Real no último sábado (4/3) – um dia após ouvir os áudios –, Auricélia Arapium disse que ela e suas companheiras sofreram uma ameaça machista. “Se fossem homens que estivessem à frente das organizações, talvez isso não tivesse acontecido. Estamos sendo ameaçadas e intimidadas por um bando de macho”, frisou.

Diversas entidades divulgaram uma nota de solidariedade às lideranças ameaçadas e de denúncia da situação, informa o g1. Segundo o texto da nota, os ataques sofridos por Maria José, Auricélia e Maria Ivete indicam uma face da violência política contra as mulheres, com objetivo de intimidar e afastar as lideranças da luta, já que elas têm atuado intensamente na defesa do território e do direito de consulta.

Outro apoio veio de participantes da 9ª Assembleia de Pastoral da Arquidiocese de Santarém, realizada no fim de semana passado, que também divulgou uma nota cobrando das autoridades não apenas investigações sérias, mas proteção às mulheres ameaçadas. “Suas vidas são preciosas para o Povo que defendem e para nós que lhes somos solidários. Basta de violência e extermínio dos Povos da Amazônia e seus territórios!”, diz o texto.


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