Geografia dos novos recordes de desmatamento e queimadas revela descaso e atos criminosos
O fechamento do primeiro semestre de 2022 na área ambiental realça a tendência de alta que o país está vivendo tanto no desmatamento de seus biomas quanto em incêndios humanos provocados principalmente pela abertura de espaço para a agricultura. O site ((o))eco mostrou que, apenas no mês junho, a Amazônia registrou o pior índice de focos de calor dos últimos 15 anos. Segundo os dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) foram 2.430 focos de calor que arderam na floresta. No acumulado do ano, já são 7.401 focos registrados, cifra 15% maior do que o mesmo período do ano passado, quando foram computados 6.387 focos entre janeiro e junho. O que mais chama a atenção é o fato do período seco, historicamente ligado às queimadas, ainda nem ter começado, o que ocorrerá de agosto até novembro.
Boa parte do fogo na Amazônia é provocado por ação humana. O Mato Grosso, como destaca a Deutsche Welle, foi o segundo estado com mais focos de calor na Amazônia no mês de junho, atrás apenas do Pará. Se o Mato Grosso registrou 21,7% dos focos de calor identificados em toda a Amazônia, 11,4% estavam no município de Nova Ubiratã, na região central do estado. “São municípios que estão vivenciando um processo de expansão das áreas de plantio de soja”, analisa Vinicius Silgueiro, coordenador de inteligência territorial do Instituto Centro de Vida (ICV), na entrevista à DW. A tendência é que nos próximos meses a alta nos focos de calor permaneça em estados com fronteiras ativas de desmatamento. Rondônia e Amazonas também devem aparecer no ranking dos estados de maior número de queimadas na Amazônia, segundo especialistas.
A geografia do fogo indica ainda que muita área protegida está sendo queimada, o que indica falta de fiscalização e de um plano efetivo de controle contra o escape das queimadas legais para zonas vizinhas. Nos últimos meses, também subiram os focos de calor em Unidades de Conservação e Terras Indígenas. Em comparação com 2021, os pontos em TIs aumentaram 36% nos primeiros seis meses do ano. Em UCs, essa taxa é de 54,5%.
O Mato Grosso também é o segundo da lista das unidades da federação mais atingidas pelo desmatamento durante todo o primeiro semestre de 2022. O primeiro, é o Amazonas. Como destaca o site g1, a área sob alerta de desmatamento na Amazônia Legal durante o primeiro semestre de 2022 é a maior em sete anos, de acordo com sistema de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Foram 3.750 km² entre 1º de janeiro e 24 de junho (mais de 2 cidades de São Paulo), índice superior ao dos anos anteriores mesmo sem contabilizar os últimos 6 dias do mês.
Os recordes negativos não param de ser batidos. O que não chega a ser novidade, se todo o contexto da política ambiental do atual governo for levado em consideração. Depois de um ano na pasta, o ministro Joaquim Leite em nada mudou o curso do Ministério do Meio Ambiente imposto pelo antecessor, Ricardo Salles. A única diferença é que o atual titular é menos espalhafatoso. Como analisam especialistas no tema nesta reportagem da Folha de S.Paulo, foi sempre o presidente Bolsonaro que ditou as regras ambientais do país, desde 2018. Como conclusão, não é apenas a Amazônia que padece. Biomas como o Cerrado, o Pantanal e a Mata Atlântica também estão mais pressionados. A comparação de regiões mais afetadas pelo fogo e pelo corte das matas, identificadas via os sistemas de monitoramento do INPE e de instituições do terceiro setor, como o Imazon, mostram com nitidez onde o discurso oficial e o enfraquecimento da estrutura de controle e fiscalização estatal estão mais presentes.
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