Filmado em 1918, “Amazonas, O Maior Rio do Mundo”, de Silvino Santos, volta a ser exibido no Brasil após quase cem anos “perdido” na Europa

O cineasta luso-brasileiro Silvino Santos é considerado um dos pais dos documentários no país. Em 1918, fez um registro inédito da Amazônia no filme “Amazonas, O Maior Rio do Mundo”. Dividido em blocos, o documentário mostra uma parte da Região Norte no início do século 20, exibindo sua fauna e flora, mas também cidades, a extração da borracha e de castanha e o Povo Indígena Uitoto – que se tornou mundialmente conhecido recentemente após quatro crianças Uitoto passarem 40 dias sozinhas na Floresta Amazônica após um acidente de avião usando seus saberes ancestrais.

A obra de Santos foi “roubada” na década de 1930, ao ser enviada para a Europa. Mas negativos de uma cópia em nitrato de celulose foram encontrados por acaso em fevereiro deste ano no Arquivo Nacional de Cinema da República Tcheca, em Praga. Erroneamente catalogado como uma produção americana de 1925, o material teve a veracidade comprovada pela Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Após ser recuperado, o filme foi exibido esta semana, na primeira de uma série de sessões que passará por cidades do Brasil e da Europa neste fim de ano e em 2024, informa o Terra.

Especialista em Silvino Santos e professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Sávio Luis Stocco conta que a identificação se deu quando o curador do Festival de Cinema Mudo de Pordenone, na Itália, deparou-se com o material e lembrou de sua tese de doutorado, que mencionava a produção, explica a Folha. Já exibida no festival italiano, a cópia de “O Maior Rio do Mundo” que chegou ao Brasil é uma digitalização e tem seus silenciosos 66 minutos acompanhados de trilha sonora inédita, composta pelo músico e professor Luiz Henrique Xavier.

Segundo Stocco, o filme foi finalizado em Manaus e levado à Europa para ser legendado em Inglês, Francês e Alemão. O responsável pelo transporte, no entanto, alterou o nome da obra e a distribuiu por conta própria, como se fosse sua. Diante da perda de autoria das imagens, Santos voltou à floresta para filmar “No Paiz das Amazonas”, que, segundo Gabriela Queiroz, diretora técnica da Cinemateca, está na fila de restauro da instituição.

Como registro de uma época, “O Maior Rio do Mundo” também apresenta imagens e expressões inimagináveis para os dias de hoje, apesar de toda a pressão econômica que ainda devasta a região amazônica e os preconceitos que insistem em rotular os Povos Originários. Isso inclui cavalos sendo violentamente chicoteados e o uso do termo “selvagem” para se referir a indígenas.

Há também uma cena em que vários peixes-bois são enfileirados em canoas. É algo impensável atualmente, quando se sabe que a espécie está criticamente ameaçada de extinção, também como consequência da caça no período registrado por Santos.


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