Além de afetar o clima, a devastação da Floresta Amazônica tem potencial para gerar uma nova pandemia, avaliam especialist

O desmatamento da Floresta Amazônica é uma imensa ameaça ao equilíbrio climático do planeta, isso já é sabido. O ponto de não retorno da cobertura vegetal amazônica está cada vez mais próximo, e é crescente a preocupação com os efeitos de uma possível savanização da Amazônia no clima da Terra, já bastante alterado pelas emissões de gases de efeito estufa oriundas da queima de combustíveis fósseis.

Mas há outro grande risco a caminho com a destruição da maior floresta tropical do mundo: a possibilidade de patógenos presentes no bioma “escaparem” a partir da entrada de pessoas em regiões até então inacessíveis. E essa “escapada” amplia a ameaça de novas doenças, inclusive de males com potencial pandêmico, como ocorreu recentemente com a COVID-19.

Um dos alertas desse risco é de Pedro Fernando da Costa Vasconcelos, um dos virologistas mais respeitados do Brasil, membro da Academia Brasileira de Ciências e professor da Universidade do Estado do Pará (UEPA). Em entrevista ao Valor, ele explica que, embora o ecossistema seja estável, ele também é frágil a alterações que ocorrem a partir de megaprojetos como abertura de estradas, exploração mineral desorganizada, garimpos ilegais e criações de reservatórios hidrelétricos, como foi o caso da usina de Belo Monte.

“Em Altamira, durante a construção de Belo Monte, mais de 100 mil pessoas migraram para lá, muitas delas não vacinadas, que desconhecem o bioma amazônico e não entendem que preservar o ambiente pode significar preservar a vida e preservar a saúde. E os vírus, de modo geral, vivem nesse ciclo que envolve os transmissores, os mosquitos e os hospedeiros primários, que são os vertebrados silvestres, principalmente mamíferos e aves”, explica o virologista.

Assim, Vasconcelos detalha que, com alterações como queimadas, derrubadas da floresta, para plantio ou criação de gado, o desequilíbrio pode levar para o ser humano doenças até então restritas. Afinal, os vírus podem migrar e trocar o hospedeiro principal, passando para as pessoas.

A avaliação é reforçada por Camila M. Romano, pesquisadora da Faculdade de Medicina da USP. Em artigo no The Conversation, reproduzido pela Galileu, ela diz que a Amazônia é uma verdadeira “bomba-relógio” para o surgimento ou ressurgimento de doenças de potencial pandêmico, “porque a degradação ambiental e a alteração nas paisagens são fatores importantes neste processo, que se agravam em períodos de seca extrema”, como a que atinge a região agora.

“Quando há a destruição de habitats, seja por qualquer razão, as espécies locais migram para áreas mais conservadas em busca de alimentos e abrigo. E isso pode ocorrer justamente em áreas próximas de assentamentos humanos, favorecendo o contato entre animais selvagens e pessoas”, reitera a especialista.


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