Proteção da Floresta Amazônica reúne conhecimento dos Povos Indígenas e projeto inovador de pesquisadores para detectar o desmatamento

É preciso insistir que a inovação tecnológica é uma ferramenta essencial tanto para a preservação da Floresta Amazônica quanto para a recuperação de áreas degradadas. Entretanto, também é crucial lembrar que os saberes tradicionais de Povos Indígenas e comunidades amazônidas são elementares nessa tarefa árdua e a cada dia mais necessária. Não é possível salvar a maior floresta tropical do mundo sem a combinação desses conhecimentos.

No primeiro caso, vale destacar o dispositivo, criado por alunos da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), capaz de identificar a devastação em áreas de floresta por meio do som. O “Curupira”, uma referência à entidade mítica conhecida por ser o Guardião da Floresta, promete identificar sons que remetem ao desmatamento, como o barulho de uma motosserra.

O “Curupira” está em fase de testes. O coordenador do Laboratório de Sistemas Embarcados da UEA, Raimundo Cláudio Gomes, explicou ao g1 que os aparelhos foram desenvolvidos para captar apenas sons selecionados pela equipe.

Para funcionar, os dispositivos precisam estar a até 1 km de distância uns dos outros, porque se comunicam entre si. Depois de captar o suposto ataque à floresta, os “Curupiras” enviam as informações por radiofrequência para uma espécie de roteador, a 15 km de distância. Feito isso, a frequência se direciona para um programa de computador, para análise e visualização dos dados.

“A motosserra é um som anômalo à floresta. Posso treinar especificamente esse som, que não é típico daquele ambiente. Então, o nosso sistema vai ignorar todos os demais sons. Para ele, é transparente. Ele filtra. E esse som, em particular, ele foi treinado para identificar. Então, ele ouviu esse som e, imediatamente, vai informar que o som de uma motosserra ocorreu naquele momento”, detalha Gomes.

A primeira fase do projeto foi financiada pela iniciativa privada, e os recursos chegaram a R$ 700 mil. No entanto, os desenvolvedores da UEA explicam que ainda há muito trabalho para que o “Curupira” se transforme num grande aliado no combate aos crimes ambientais, o que vai exigir mais investimentos.

Para a segunda etapa do “Curupira”, há uma previsão de implantar detecção de focos de fumaça. “A gente pretende fazer outras identificações, de fumaça, de vibrações. Assim, conseguimos ampliar nossos parâmetros de alertas, podendo captar queimadas e outras situações”, explica Thiago Almeida, gerente do projeto.

Quanto aos saberes tradicionais, Povos Indígenas de quatro regiões diferentes da Amazônia falaram de suas estratégias para proteger a floresta em encontro nos “Diálogos Amazônicos”. São parcerias formadas com organizações que se mobilizam para combater a destruição nas áreas mais invadidas do bioma, destaca o Instituto Socioambiental (ISA).

As experiências narradas envolvem as “Guerreiras da Floresta”, do Povo Guajajara, no Maranhão; o trabalho dos indígenas da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia; a Rede Xingu+, formada por 32 organizações de Povos Indígenas, ribeirinhos e instituições que fazem parte do Corredor de Áreas Protegidas do Xingu, entre Mato Grosso e Pará; e as ações de proteção territorial e acompanhamento da emergência sanitária na TI Yanomami, em Roraima e Amazonas.

Leonardo de Moura, do ISA de Altamira (PA), que mediou o debate, lembra que a troca de experiências sobre as ações de  proteção de diferentes territórios são importantes para formar um acúmulo de conhecimento para tornar as medidas de combate ao desmatamento mais efetivas em toda a região amazônica. Mas frisa que resultados mais estáveis dessas ações dependem do desenvolvimento de uma economia local baseada em atividades sustentáveis.

“Enquanto as economias locais de muitos municípios amazônicos for baseada em atividades como o garimpo, a exploração madeireira ilegal e a grilagem de Terras Públicas, as ações de comando e controle estarão sempre enxugando gelo”, avalia.


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