Encontro dos líderes dos países amazônicos marcou um novo tempo para a região, mas documento final ignorou fim de exploração de petróleo e desmatamento zero

É inegável que a Cúpula da Amazônia, que reuniu líderes dos países da região, e os Diálogos Amazônicos, com representantes de Povos Indígenas, movimentos sociais e da comunidade científica, marcaram uma “virada de chave” nos debates sobre o desenvolvimento socioambiental sustentável do território amazônico. Após quatro anos de um desgoverno que estimulou a destruição da Floresta Amazônica e dos Povos Originários, ignorou as demandas da população amazônida e rompeu vínculos com os governos vizinhos, os eventos representaram a retomada de planos para a região, justamente num momento em que a crise climática se agrava no planeta, e cuja solução depende da preservação do bioma.

Mas também é preciso admitir que, apesar de os seis relatórios originados das discussões no “Diálogos” trazerem propostas efetivas e factíveis, como mostra o g1, a “Declaração de Belém” – assinada por presidentes e autoridades dos países amazônicos, que receberam os documentos produzidos no encontro da sociedade civil – deixou um gosto de “quero mais”. Mais do que isso, a carta deixou a certeza de que precisamos de mais. E já.

A Declaração de Belém é, de fato, extensa, com 113 pontos listados. Mas não apresenta metas concretas. Sobretudo no que diz respeito ao desmatamento zero da Floresta Amazônica – somente o Brasil concordou em manter 2030 como ano-limite para acabar com a devastação do bioma – e ao fim da exploração de combustíveis fósseis na região, proposta defendida somente pela Colômbia e que, por isso, também ficou fora do documento final.

Os oito países presentes na Cúpula se comprometeram de modo genérico a combinar esforços para estabelecer uma nova agenda de cooperação na região, destaca a Agência Pública. Um dos pilares da Declaração é adotar uma “ação urgente” para evitar que a maior floresta tropical do mundo, compartilhada por todos eles, atinja o chamado ponto de não retorno.

A ausência de metas concretas e prazos firmes para a conservação da Amazônia no documento deu o tom das críticas de organizações socioambientais. Dezenas delas publicaram notas em protesto à falta de um comprometimento efetivo, sobretudo em um contexto de agravamento dos eventos climáticos extremos, reforça a Folha.

“Não é possível que, num cenário como esse, oito países amazônicos não consigam colocar numa declaração, em letras garrafais, que o desmatamento precisa ser zero e que explorar petróleo no meio da floresta não é uma boa ideia. Em resumo, o documento pecou pela falta de contundência”, avaliou o secretário-executivo do Observatório do Clima, Marcio Astrini.

Na mesma linha, Leandro Ramos, diretor de programas do Greenpeace Brasil, considerou grave a ausência de metas concretas para zerar o desmatamento ou para frear a exploração de petróleo na Amazônia.

“A declaração final da Cúpula da Amazônia é decepcionante em vários aspectos, mas principalmente pelo fato dela não incluir compromissos claros e concretos que apontem para a superação da relação que os nossos países têm hoje com a Amazônia”, disse ele.

Para o fundador da Coalizão Brasil e diretor da Nature Finance, Marcelo Furtado, a Declaração de Belém corre o risco de repetir acordos anteriores e, no fim, virar “letra morta”: “A Cúpula abordou os temas certos, mas não entregou o que a sociedade, o setor privado e a Academia esperam: um conjunto de ações concretas, de curto e médio prazos, que possam mudar o rumo em que hoje navegamos”.


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