Mobilização contra exploração de combustíveis fósseis na região coloca tema no centro das discussões da Cúpula da Amazônia, mas países evitam compromisso

A Cúpula da Amazônia é uma oportunidade para que seja formalizada uma “política articulada para a eliminação imediata dos combustíveis fósseis” na região. A proposta está no documento “Amazônia Livre de Petróleo e Gás“, assinado por mais de 80 entidades. Entretanto, a proposta de incluir nas decisões do encontro diplomático o fim da exploração de petróleo e gás fóssil no território amazônico, capitaneada pelo presidente da Colômbia, Gustavo Petro, não sensibilizou os demais líderes amazônicos. Muito menos o anfitrião da Cúpula, o presidente Lula.

A reivindicação pelo fim da exploração de combustíveis fósseis na Amazônia ganhou força durante os “Diálogos Amazônicos”, que reuniu mais de 27 mil pessoas. Em oito plenárias oficiais e mais de 400 eventos paralelos, foi discutido de tudo: da proteção dos territórios à segurança alimentar, passando por saúde, sociobioeconomia, novos modelos de desenvolvimento e, claro, garantia dos direitos dos Povos indígenas. Mas entre tantas demandas, duas se consolidaram como prioridades: o desmatamento zero e o fim da exploração de petróleo na região, destaca a Agência Pública.

A eclosão da pauta antipetróleo surpreendeu ambientalistas brasileiros, segundo a Folha. O assunto foi citado nas cinco plenárias do evento, todas com temas definidos pelo governo federal: proteção dos territórios, saúde, ciência e energia, bioeconomia e Povos Indígenas. “A omissão lá [nos preparativos da Cúpula] inflamou a pauta aqui”, avalia Marcelo Laterman, geógrafo e porta-voz de oceanos do Greenpeace Brasil. “Os Diálogos Amazônicos acenderam o sinal de que a luta não é só contra [a exploração petrolífera na] Foz do Amazonas, mas em toda a Amazônia”, completa.

A cobrança ocorre em meio à pressão para que o IBAMA autorize a Petrobras a pesquisar a viabilidade de explorar petróleo na foz do Amazonas. O órgão ambiental negou a licença à estatal, mas vem sendo criticado por vários setores do governo federal. E na semana passada, o próprio Lula disse que “sonhava” com a exploração de petróleo na região de alta sensibilidade ambiental.

Por isso, Carolina Marçal, analista do Instituto ClimaInfo, ressalta ao g1 que não basta ao governo dizer que a pauta ambiental é prioritária. É preciso mais ambição. E isso passa por suspender qualquer atividade petrolífera na região amazônica.

“Estamos pedindo mais ambição do governo brasileiro. O governo prometeu prioridade para a pauta ambiental, questões importantes relacionadas a desmatamento e ao uso da terra, mas não em relação à exploração de petróleo e gás na Amazônia. A mensagem principal é que, para proteger a Amazônia, zerar o desmatamento é, sim, um passo importante, mas não é suficiente.”

Mas a “Declaração de Belém” – documento final da Cúpula da Amazônia, assinado pelos líderes dos países com os acordos e compromissos firmados no encontro e divulgado na terça-feira (8/8) – ignorou tais demandas. Em nenhuma linha a palavra “petróleo” ou a expressão “combustíveis fósseis” são mencionadas. O máximo que se chegou ao tema foi “iniciar um diálogo entre os Estados-Partes sobre a sustentabilidade de setores tais como mineração e hidrocarbonetos na Região Amazônica”, diz o documento. Ausência que já era esperada, relata o Poder 360.Uma quase confirmação de que não haveria um compromisso dos líderes amazônicos com o fim da exploração de petróleo na região se deu na chegada de Lula a Belém para participar da Cúpula. “Você acha que eu vim aqui para discutir isso agora?”, disse o presidente, ao ser questionado por jornalistas sobre a exploração de combustíveis fósseis na foz do Amazonas, informa a Folha.


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