Multinacionais patrocinam desinformação sobre devastação da Floresta Amazônica, que, além de real, aumenta a violência e diminui o desenvolvimento na região

A Amazônia ainda precisa ser muito “explorada” quando se trata de conhecimento. Afinal, não é fácil desenvolver estudos numa área tão vasta, de dimensões continentais. Entretanto, já existem várias certezas sobre a região, sobretudo quando se trata dos crimes cometidos contra a Floresta Amazônica, como as violências do desmatamento, do garimpo ilegal e dos ataques aos Povos Indígenas.

Mas a extrema-direita insiste em disseminar mentiras sobre a região em contas nas redes sociais, contestando o incontestável para confundir a opinião pública. Como até para espalhar mentiras há custos, essas “iniciativas do mal” contam com apoio de grandes empresas nacionais e internacionais – ainda que de forma involuntária.

Um relatório da organização Ekō mostra que multinacionais como Unilever, Mitsubishi, Panasonic e até a UNICEF, o fundo da ONU para a infância, veiculam anúncios em vídeos do YouTube que disseminam informações falsas sobre desmatamento e incêndios na Amazônia e teses mentirosas sobre meio ambiente. Há também marcas nacionais, como Pão de Açúcar, Quinto Andar, Evino, Localiza e Eucerin, informa a Folha, matéria também repercutida pelo Terra.

O levantamento, feito entre maio e junho de 2023, encontrou 50 vídeos – 31 deles monetizados – com desinformação, dados fora de contexto ou teorias da conspiração relacionadas à Amazônia e às mudanças climáticas. Os 50 vídeos alcançaram 4 milhões de visualizações e veicularam publicidade de 120 anunciantes diferentes.

Na maioria dos casos, as empresas não sabiam da associação de suas marcas aos vídeos. O YouTube, que não pode alegar desconhecimento como fazem as empresas, diz que os vídeos do levantamento não violam suas políticas. Vale lembrar que o Google, que controla o YouTube, promoveu uma campanha explícita contra o projeto de lei das Fake News, parado no Congresso Nacional.

A Ekõ criticou a política do YouTube. “O Google deve revisar e ampliar sua definição de desinformação climática, que atualmente é muito restrita. A definição atual não consegue abranger toda a gama de conteúdo prejudicial que obstrui a ação global para combater as mudanças climáticas”, diz o relatório.

Enquanto a “máfia da desinformação” continua agindo impunemente e negando a devastação da Floresta Amazônica, a região sofre com o baixo desenvolvimento social, que está diretamente ligado ao desmatamento que os negacionistas insistem em fortalecer. É o que mostra o Índice de Progresso Social (IPS), do Imazon, repercutido por vários veículos, como Jornal Hoje, Metrópoles e BNC Amazonas.

A correlação entre desmate e subdesenvolvimento é evidente, mostra o estudo. Assim, os municípios da Amazônia que registraram as maiores taxas de desmatamento nos últimos três anos tiveram os piores desempenhos sociais do levantamento, que analisou 47 indicadores de qualidade de vida de áreas como saúde, educação, segurança e moradia.

O estudo do Imazon mostra que os 29 territórios com altas taxas no IPS, superiores a 61,8, tiveram desmatamento médio de 20 km² entre 2020 e 2022, segundo dados do Projeto PRODES, do INPE. Em contrapartida, as 89 cidades com as avaliações mais baixas, inferiores a 50,1, destruíram uma média de 86 km² de floresta nesse período.

“O IPS é um pouco melhor nas capitais e em alguns territórios com mais de 200 mil habitantes. Por outro lado, em geral, os municípios com altas taxas de desmatamento apresentam notas muito baixas. Isso mostra mais uma vez que a expansão da derrubada não gerou desenvolvimento na Amazônia. Pelo contrário, deixou os 27 milhões de habitantes da região sob condições sociais precárias”, destaca Beto Veríssimo, cofundador do Imazon e coordenador da pesquisa.


Este conteúdo pode ser republicado livremente em versão online ou impressa. Por favor, mencione a origem do material. Alertamos, no entanto, que muitas das matérias por nós comentadas têm republicação restrita.

Aqui você encontra notícias e informações sobre estudos e pesquisas relacionados à questão do desmatamento. O conteúdo é produzido pela equipe do Instituto ClimaInfo especialmente para o PlenaMata.

Se você gostou dessa nota, clique aqui e assine a Newsletter PlenaMata para receber o boletim completo diário em seu e-mail.