Pesquisa mostra que manguezais da região são os mais preservados do planeta. Muito mais poderia ser feito para a conservação amazônica, mas cientistas identificam lacunas na investigação ecológica da região

A costa amazônica formada por Amapá, Pará e Maranhão abriga mais de 80% dos manguezais de todo o Brasil. Os mangues da região ocupam uma área de cerca de 8 mil km2, o que os tornam os mais extensos do planeta. E uma pesquisa aponta que também são os mais preservados do mundo.

De acordo com o estudo, menos de 1% de toda a extensão dos manguezais amazônicos foi degradada. Esse altíssimo nível de conservação se deve principalmente à cobertura florestal que recobre o entorno das áreas de estuário, destaca a Folha.

A pesquisa analisou imagens de alta resolução de satélite da baía de Marajó, no Pará, até a baía de São José, no Maranhão. E identificou que a costa amazônica compreende uma área de 7.820,05 km2, dos quais 7.210 km2, ou 92%, são florestas de mangues. E menos de 1% (66,85 km2) tinha sido modificada para uso do solo.

O estudo foi feito por pesquisadores do Instituto Tecnológico Vale (ITV), da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e publicado nos Anais da Academia Brasileira de Ciências. Os cientistas mapearam a extensão e a degradação dos manguezais amazônicos de 2011 a 2015.   

Apesar dos dados animadores, “pressões como a construção de rodovias e a criação de animais para consumo, como crustáceos e peixes, colocam em risco esse ecossistema único”, pondera o geólogo Pedro Walfir Martins e Souza Filho, um dos autores da pesquisa. Por isso, os autores apontam como fundamentais a implantação de políticas públicas focadas nos ecossistemas dos manguezais, levando em consideração também as necessidades das comunidades locais.

Cada nova informação sobre a Amazônia é crucial para a proteção e a recuperação da região. Entretanto, há lacunas consideráveis nos estudos ecológicos sobre a parte brasileira da Floresta Amazônica. É o que avalia um artigo publicado na revista Current Biology por cientistas de todo o mundo reunidos no Consórcio Synergize. O texto revela não apenas áreas, mas os fatores que determinam esses gaps investigativos.

O trabalho utilizou informações de 7.694 locais onde ocorreram investigações ecológicas para avaliar como a logística e a influência antrópica nas florestas explicaram a chance de diferentes regiões da Amazônia receberem pesquisas. O período analisado foi de 2010 a 2020.

“O consórcio reuniu pessoas que contribuíram com bancos de dados sobre inventários padronizados e estudos que apresentassem esforços amostrais similares. Capturamos informação sobre três grandes grupos representativos da biodiversidade da Amazônia: animais vertebrados, invertebrados e a flora de florestas de terra firme, florestas alagáveis e de ambientes aquáticos”, explica o biólogo Mario Ribeiro de Moura, do Instituto de Biologia da UNICAMP, um dos autores do artigo e integrante do consórcio, à Agência FAPESP.

As descobertas indicam que 15% a 18% das áreas com biodiversidade mais negligenciadas na Amazônia brasileira também mostram alta suscetibilidade às mudanças climáticas até 2050. A região com menor volume de pesquisas coincide com parte das áreas ameaçadas nas proximidades do arco do desflorestamento, que contorna os limites sul, sudeste e leste da Amazônia e se concentra em parte dos estados do Acre, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Tocantins.

Quanto à logística, a acessibilidade e a distância de instalações de pesquisa são importantes preditores da probabilidade da realização de trabalhos científicos. “O acesso é uma faca de dois gumes, e a região do arco do desflorestamento comprova. A facilidade de acesso permite que os pesquisadores alcancem mais áreas, por isso há uma parte desse imenso arco sobre a qual já se sabe bastante. Mas também permite que os desmatadores e outros com piores intenções cheguem lá. E ainda há pouca informação sobre as áreas ameaçadas que se localizam na fronteira do arco do desflorestamento”, explica Moura.


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