Estudantes da UFPA criam turbina a biomassa para substituir eletricidade suja na Amazônia, mas região sofre pressão da indústria petrolífera

O governo federal prometeu lançar neste mês o programa “Descarbonização da Amazônia” que deve receber R$ 5,5 bilhões em investimentos. Ele vai substituir a energia elétrica cara e suja, gerada a combustíveis fósseis, por fontes renováveis nos sistemas isolados em regiões amazônicas que não são conectados à rede elétrica nacional. Além das possibilidades renováveis já disponíveis, como a fonte solar, outras alternativas energéticas não-poluentes vêm sendo criadas por pesquisadores para garantir eletricidade nas localidades mais distantes.

Uma boa proposta de como fazer isso vem do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica (PPGEM) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Alunos do curso criaram uma turbina a vapor que funciona à base de biomassa e gera energia elétrica mais eficiente e segura para comunidades isoladas na Amazônia, além de reduzir a sujeira de termelétricas a combustíveis fósseis usadas nesses locais.

O equipamento converte energia térmica, gerada pela queima de biomassa, em vapor pressurizado. Este, por sua vez, movimenta lâminas móveis conectadas a geradores elétricos, explica o Pará Terra Boa. Em teste, o dispositivo gerou energia suficiente para abastecer cinco famílias com média de consumo energético mensal entre 100 e 200 kWh, de acordo com a Agência Bori.

Segundo Davi Cavalcante, um dos alunos do PPGEM/UFPA responsável pelo estudo, a tecnologia é comumente usada em indústrias que geram grande quantidade de resíduos orgânicos, como madeireiras. “Mas as turbinas disponíveis no mercado são de grande porte e operam com alta pressão. A que desenvolvemos é bem menor e pode ser facilmente operada pelas comunidades rurais que não têm acesso à rede elétrica convencional”, detalha.

O dispositivo desenvolvido pela UFPA conta com uma caldeira de 2 metros por 1 metro de diâmetro e uma turbina de 30 a 50 centímetros, segundo o Gizmodo. Em testes realizados em 2019, o equipamento foi capaz de produzir cerca de 500 W, funcionando a uma baixa pressão e abastecido com 250 quilogramas de biomassa.

Cavalcante ressalta que o equipamento pode gerar uma quantidade razoável de energia com pouca biomassa. Por isso, pode ser uma solução para comunidades que atuam na coleta do açaí, por exemplo, que podem usar os caroços da fruta como combustível. Outro benefício da turbina a vapor é que pode ser manuseada sem a necessidade de acompanhamento especializado, já que sua operação é considerada de baixa complexidade por funcionar sob baixa pressão.

É coerente que comunidades da Floresta Amazônica sejam abastecidas por energia limpa. Ao mesmo tempo, a Amazônia vem sendo ameaçada por projetos de exploração de petróleo e gás – e não apenas no Brasil, com o pedido negado pelo IBAMA para que a Petrobras explore gás na foz do rio Amazonas. Como explica o Um só planeta, Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela já têm algum grau de exploração de combustíveis fósseis na região, mas estão avaliando se vão ampliar essas operações. A Guiana começou recentemente a produzir petróleo no mar, volumes que devem ser ampliados em breve, e deve vender novas áreas exploratórias. E o Suriname também planeja extrair petróleo no litoral.

A estratégia de investir em petróleo e gás fóssil na região tem alto risco financeiro. Projetos no setor costumam demorar anos para dar resultados, e a Agência Internacional de Energia estima que a demanda global por petróleo deverá chegar ao pico em 2028. A partir daí, as empresas terão de disputar um mercado estagnado ou minguante.

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