Lula reafirmou que conferência em Belém é chance para o mundo conhecer a Amazônia, mas isso só vai acontecer se povos amazônidas tiverem vez e voz

“Ao longo de todos esses anos, não temos dado a atenção que ela (a região amazônica) merece. A Cúpula de Belém [COP30, em 2025] será o momento de correção de rota.”

A fala do presidente Lula na reunião preparatória em Leticia, Colômbia, para a Cúpula da Amazônia, reforçou o que ele já havia dito sobre a importância de realizar a conferência do clima na região. Contudo, para que o encontro seja uma verdadeira “virada de chave”, é fundamental ouvir e incluir Comunidades Indígenas, Quilombolas e Tradicionais. E há dúvidas se isso irá ocorrer como deve ser.

No encontro em Leticia, no fim de semana passado, Lula disse que a COP30 será uma plataforma para que os países amazônicos assumam “o protagonismo na busca por soluções compartilhadas”, informa o Poder 360. Para o presidente, as nações da Amazônia têm um desafio político, de construir uma nova visão de desenvolvimento sustentável para a região, e outro, institucional, de fortalecer a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), que reúne os oitos países da região.

Para Helder Barbalho, governador do Pará e anfitrião da COP30, “o Brasil se insere efetivamente como líder da agenda diplomática ambiental”, com a conferência. Em entrevista à CNN, Barbalho disse ser possível unir a agenda de preservação com o avanço da atividade econômica no país, citando como exemplo a implementação do Plano Safra sustentável para o agro.

Mas sabe-se também que, sob a mesma alegação, Barbalho defende a exploração de petróleo na foz do Amazonas. Esse e outros pontos que equivocadamente associam o desenvolvimento amazônico a práticas econômicas exploratórias e ultrapassadas preocupam quem de fato “vive” a região: os Povos Indígenas e Tradicionais. 

Com a COP30 em Belém, vislumbrou-se uma oportunidade para que os amazônidas sejam protagonistas dessas discussões, garantindo que o desenvolvimento econômico seja ambientalmente responsável e plenamente inclusivo. Mas o temor é que, mais uma vez, esses povos sejam excluídos do debate.

A experiência e os dados mostram que o conhecimento tradicional é crucial para a preservação e a recuperação da Floresta Amazônica. Contudo, os saberes locais são preteridos. E a pauta climática vem sendo cada vez mais capturada pelas empresas, sob um duvidoso argumento tecnicista, destaca o Brasil de Fato.

A artesã indígena Vandria Borari, da Associação Kuximawara de artistas e artesãs indígenas de Alter do Chão, no Pará, afirma que “as grandes corporações argumentam que têm tecnologias sustentáveis para combater as mudanças climáticas. É uma propaganda falsa diante da catástrofe e dos impactos que elas causam em nosso território. É fundamental que o governo dialogue com as comunidades. Há várias iniciativas ecológicas que nós, Povos Indígenas, desenvolvemos no território: arte, agricultura familiar, pesca, ecoturismo, remédios de plantas de cura. É preciso a valorização das comunidades e dos produtos ecológicos para, assim, desenhar melhor as tecnologias que o governo venha incentivar”.

Integrante da Plataforma Latino-americana pela Justiça Climática, a colombiana Nathalie Rengifo adverte que será preciso uma árdua batalha para que os Povos Amazônicos sejam ouvidos na COP30. Assim como superar a ideia, muitas vezes sustentada mesmo por governos progressistas, de desenvolvimento baseado no extrativismo predatório.

O prognóstico nada animador de Rengifo se justifica. Como ela própria analisa, estamos indo para a 28ª convenção do clima da ONU, enquanto as emissões e a crise climática só cresceram nesses anos.

“As negociações por uma mudança climática, infelizmente, não estão avançando nem gerando diálogos reais. Ao contrário: as convenções estão, cada vez mais, priorizando a voz daqueles que, justamente, geraram a crise climática”, sentencia ela.


Este conteúdo pode ser republicado livremente em versão online ou impressa. Por favor, mencione a origem do material. Alertamos, no entanto, que muitas das matérias por nós comentadas têm republicação restrita.

Aqui você encontra notícias e informações sobre estudos e pesquisas relacionados à questão do desmatamento. O conteúdo é produzido pela equipe do Instituto ClimaInfo especialmente para o PlenaMata.

Se você gostou dessa nota, clique aqui e assine a Newsletter PlenaMata para receber o boletim completo diário em seu e-mail.