Número de queimadas em junho foi o maior para o mês desde 2007, e com o El Niño mais intenso a caminho, especialistas buscam soluções para evitar o pior

Antes mesmo do fim de junho, o sistema DETER, do INPE, trouxe boas notícias em relação ao desmatamento na Amazônia. De 1o de janeiro a 24 de junho de 2023, os alertas de desmate na região totalizaram 2.416 km2. É uma área pouco maior que a de Palmas, capital do Tocantins, e embora nada desprezível, representa uma queda de quase 40% sobre a devastação registrada em igual período do ano passado. Além de ser o terceiro menor número da série histórica, iniciada em 2015.

Mas nem tudo foi positivo quando se trata da preservação da Floresta Amazônica. No mesmo período, o INPE registrou 8.344 focos de calor no bioma, indicando que o número de queimadas cresceu 10,7% sobre o registrado de janeiro a junho de 2022. Além disso, foi o maior para o período desde 2019. É importante lembrar que as queimadas no 1º semestre estão associadas ao desmatamento recorde no 2º semestre do ano passado, quando as eleições definiram que a política antidesmatamento iria mudar, o que fez muita gente acelerar a destruição.

Os estados com maiores focos de calor foram Mato Grosso, com 4.569 (55%); Pará, com 1.482 (18%); e Roraima, com 1.261 (15%). Quando se trata de crescimento percentual, Roraima aparece na frente, com elevação de mais de 100% entre o primeiro semestre de 2022 e o de 2023.

O primeiro semestre na região é caracterizado por muita chuva – o chamado “inverno amazônico” –, com mudanças expressivas no clima dos estados que compõem a floresta tropical, à exceção de Roraima. Por isso, o número de queimadas preocupa. Segundo Rômulo Batista, porta-voz do Greenpeace Brasil, a chegada do “verão amazônico”, que traz tempo seco, vai demandar ainda mais esforço governamental.

“Infelizmente, devemos ver esses números aumentarem vertiginosamente nos próximos meses, pois está começando o verão amazônico, período mais seco e quente, que vai exigir ainda mais trabalho e ação coordenada entre governos federal e estaduais para evitar que se repitam os recordes vistos nos anos do governo anterior, cuja política era claramente antiambiental”, diz Batista a ((o))eco.

A situação tende a ser ainda pior do que o habitual por causa do fortalecimento do El Niño, que deve acontecer entre o fim deste ano e o início de 2024. Pode causar uma “hecatombe ambiental” na Amazônia, diz à BBC a bióloga brasileira Erika Berenguer, pesquisadora das universidades de Oxford e Lancaster, no Reino Unido.

O fenômeno climático costuma aumentar a temperatura e reduzir a quantidade de chuvas na região amazônica. E o cenário para este ano, segundo especialistas, pode ser pior do que o registrado entre o segundo semestre de 2015 e o início de 2016, período do El Niño mais recente, lembra o g1.

Para pesquisadores, a fiscalização intensa sobre o fogo na região, especialmente as consideradas menos úmidas, e alertas para a população sobre os riscos de incêndios no período de seca estão entre as principais medidas a serem tomadas para reduzir possíveis danos do El Niño à Floresta Amazônica. “Essas ações, se implementadas, têm capacidade de prevenir e evitar essa grande catástrofe que pode acontecer se não houver nenhuma ação”, pontua a pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental e da Rede Amazônia Sustentável, Joice Ferreira.

O El Niño está sendo monitorado pelo governo federal, conta o presidente do IBAMA, Rodrigo Agostinho. O órgão ambiental tem mantido contato com as principais agências de meteorologia do país para acompanhar o avanço do fenômeno climático e se organizar para enfrentar os possíveis impactos.

“O El Niño pode trazer um período de seca notadamente na região Norte do país e isso pode ter implicações no agravamento dos problemas dos incêndios florestais. Sua chegada está sendo um processo bastante rápido e está sendo monitorada pelos técnicos do PrevFogo (Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais)”, explica Agostinho.


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