Com o fenômeno climático, que costuma aumentar as secas na região, especialistas temem ainda mais queimadas. E com o crime organizado dominando as ilegalidades ambientais, o combate a ações criminosas se torna ainda mais desafiador

É oficial: está de volta o El Niño, fenômeno climático caracterizado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico central. A chegada foi confirmada pelo Centro de Previsão Climática da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (CPC/NOAA, na sigla em inglês) dos Estados Unidos na última 5ª feira (8/6) e ocorre alguns meses antes do inicialmente previsto por meteorologistas.

Os primeiros sinais do El Niño coincidiram com o início do período seco na Amazônia. E como o fenômeno costuma reduzir as chuvas na região, o que já era preocupante pode se tornar ainda mais dramático. É na seca amazônica que se intensificam as queimadas, feitas para “limpar” áreas desmatadas ilegalmente. Com menos precipitação, os criminosos podem ganhar ainda mais tempo. E aumentar em muito os estragos sobre a Floresta Amazônica.

Não à toa, especialistas apontam que a convergência de desmatamento em alta nos próximos meses e a ocorrência do El Niño cria um cenário de “tempestade perfeita” para a destruição do bioma, relata a Folha. Por isso, afirmam que é preciso acelerar ações e regulamentar a política nacional para o manejo de fogo nas áreas rurais.

Segundo Celso Silva Junior, professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e também integrante do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), 69% das áreas da Amazônia estão sujeitas à seca. Ele lembra que 2015 e 2016, anos de El Niño, foram marcos das mudanças de intensidade do fenômeno ao longo do tempo e indicam os riscos que o país corre novamente agora.

No Dia Mundial do Meio Ambiente, o governo federal lançou a nova versão do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), com metas e projetos para que o Brasil zere a devastação na região até 2030. Contudo, apontam os especialistas, o PPCDAm não oferece indicadores e medidas de curto prazo para enfrentar o fogo que está começando agora.

Para a diretora de Ciência do IPAM, Ane Alencar, o Brasil precisa reduzir o desmatamento e o uso de fogo, sobretudo na agropecuária – que, como mostrou o MapBiomas, é o principal vetor de desmate, respondendo por 95,7% da devastação florestal ocorrida em todo o país em 2022.

“Reduzir o desmatamento é o número um. O passo número dois é reduzir a queima de pastagens, e isso é uma questão de manejo e política pública”, reitera Ane Alencar.

Embora em percentual bastante inferior ao agro, o garimpo ilegal foi o segundo vetor de desmatamento no ano passado. E, como escancarou a tragédia humanitária com o Povo Yanomami, a atividade agora está sob o comando de facções criminosas do Sudeste, como o PCC e o Comando Vermelho.

Para enfrentar esse cenário com eficiência, será preciso entender como funciona a associação entre as ilegalidades ambientais e o crime organizado. Essa é a avaliação de Roberto Cabral Borges, analista ambiental do IBAMA.

“Integrantes do PCC estão presentes nas Terras Indígenas como gerentes do garimpo. Eles descobriram uma forma de ganhar dinheiro na Amazônia e de ter esse controle”, afirmou o biólogo, entrevistado pelo repórter da piauí Bernardo Esteves, especializado na cobertura de ciência e meio ambiente, e pela jornalista Carol Pires, curadora do Encontros Piauí, realizado na terça-feira (13/6), em Brasília.

Segundo Borges, a equipe de fiscalização do IBAMA observou uma mudança de comportamento do garimpo nos últimos anos. Antes, encontravam armas de caça e dois ou três cartuchos de munição. Hoje, apreendem caixas de cartuchos, pistolas, revólveres e até fuzis. Em uma das últimas fiscalizações, a equipe apreendeu um fuzil 762 na Terra Indígena Yanomami. “Ficou mais fácil o acesso a esses materiais e o desvio de munição”, sentenciou o analista.


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