Um ano após o assassinato de Bruno Pereira e Dom Phillips, a violência continua espreitando quem defende a Floresta Amazônica e os direitos dos povos originários. Mas, apesar do medo, o clamor por justiça é maior e se desdobra em ações do governo e da sociedade civil

Exatamente um ano atrás, em 5 de junho de 2022, o indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips foram covardemente assassinados enquanto navegavam pelo rio Itaquaí, no extremo oeste da Amazônia brasileira, na Terra Indígena Vale do Javari. O chocante crime foi motivado pela defesa que Bruno e Dom faziam da preservação da Floresta Amazônica e dos Direitos dos Povos Indígenas. Um dever do Estado brasileiro.

Mas, no momento em que foram mortos, o governo federal havia abandonado as comunidades amazônicas à própria sorte. Pior: estimulava o avanço de atividades ilegais na região, como o desmatamento e o garimpo. No auge dos absurdos, chegou a culpar as vítimas pelas suas mortes.

A Justiça Federal, enfim, deu início ao processo de julgamento dos três homens acusados pelo assassinato – Amarildo da Costa de Oliveira, o “Pelado”, Jefferson da Silva Lima e Oseney da Costa de Oliveira. Além deles, está preso o empresário colombiano Rubens Villar Coelho, o Colômbia, acusado de ser o mandante do crime.

A expectativa de que será feita justiça no brutal caso move quem acompanhou o trabalho de Bruno e Dom. E, mesmo diante de tamanha violência, ambos deixaram um legado que estimula lideranças indígenas, movimentos sociais e ambientalistas e agentes do Estado a continuarem a luta pela preservação do Vale do Javari.

Na sexta-feira (2/6), o Ministério dos Povos Indígenas publicou uma resolução que cria um grupo de trabalho de proteção territorial e de segurança da Terra Indígena Vale do Javari. O GT vai propor medidas concretas para ações de entidades estatais e da sociedade civil organizada para a segurança territorial e da população indígena local, além da repressão a crimes de natureza diversa cometidos no interior da TI, detalha o g1. Os trabalhos do GT terão duração de 180 dias, prazo que poderá ser prorrogado.

Em outra frente, um grupo de jornalistas se articula para terminar o livro “How to Save the Amazon: Ask the People Who Know”, que estava sendo escrito por Dom Phillips. O livro será publicado pela Manilla Press, da editora Bonnier Books. Para concluí-lo, também estão arrecadando fundos.

Entre os escritores que vão ajudar a finalizar a obra estão Jon Lee Anderson, que escreve para a revista The New Yorker; Tom Phillips e Jonathan Watts, que trabalham para o The Guardian; e Andrew Fishman, presidente do The Intercept Brasil. Eles usarão notas e transcrições de entrevistas conduzidas por Dom e irão à região amazônica para completar os capítulos que faltam, relata a Folha.

A resistência vai superando o medo das intimidações, que continuam. No Vale do Javari, indígenas denunciam casos de abandono do poder público, conflitos e ameaças feitas por criminosos. Em abril, homens armados com fuzis invadiram uma aldeia do Povo Kanamari e ameaçaram o cacique. Segundo lideranças, a briga começou após a Polícia Federal apreender madeiras extraídas ilegalmente da TI.

“Nos últimos anos, os crimes ambientais têm sido dos assuntos mais perigosos para os jornalistas cobrirem”, ressalta Laurent Richard, fundador e diretor do consórcio Forbidden Stories, em artigo na Folha. No texto, ele aponta, com base em informações da organização Repórteres Sem Fronteiras, que “dois jornalistas são mortos, em média, a cada ano por seu trabalho sobre desmatamento, mineração ilegal, predação de terras, poluição e outros assuntos ligados às indústrias extrativas” e afirma, ainda, que “os defensores do meio ambiente, por sua vez, também estão no olho do furacão. De acordo com um relatório da Global Witness, 1.700 deles foram mortos de 2010 a 2020”.


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