O desmatamento da Floresta Amazônica e a pecuária extensiva e de baixa produtividade a ele associada fazem crescer no sul do Pará a cultura dos rodeios ao estilo norte-americano. Nesses eventos, peões das fazendas de gado da região mal remunerados e sem garantias trabalhistas sonham com o estrelato

A cidade de Canaã dos Carajás, no sudeste do Pará, enriqueceu com a chegada da Vale, em 2016. Desde então, o Produto Interno Bruto (PIB) do município, hoje com 40 mil habitantes, multiplicou-se por oito, e em 2020 atingiu R$ 22 bilhões – mais que o PIB de Roraima. Mas, além de abrigar a extração regular de minério de ferro, a localidade virou o “paraíso” do garimpo ilegal, sobretudo de cobre.

As ilegalidades não começaram aí. Antes dos garimpeiros irregulares na região de Carajás, veio o desmatamento da Floresta Amazônica. E, com ele, a pecuária. 

Segundo o Mongabay, a criação de gado na Amazônia brasileira começou nos anos 1970 e 1980 e era limitada a grandes fazendeiros que se estabeleceram no Pará e no Mato Grosso, graças à especulação fundiária, ao crédito e aos incentivos governamentais. Hoje, é feita por filhos e netos desses pioneiros e por seus funcionários – afinal, a pecuária é uma das poucas opções de trabalho na região.

São esses descendentes e os trabalhadores que agora se transformam em “caubóis da floresta”. Promovendo rodeios, eles criaram uma subcultura que mistura a imagem dos vaqueiros dos Estados Unidos – estilo que marca Barretos (no interior paulista), considerada a capital brasileira desse tipo de evento – com a música sertaneja brasileira, e a normalização do desmatamento como uma forma de exploração da terra.

É justamente o peão de boiadeiro, chamado na região de tropeiro, o principal agente do chamado “desmatamento prematuro”, segundo Paulo Barreto, pesquisador do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). “É onde áreas bem distantes são ocupadas por pessoas que acreditam que um dia a estrada vai chegar lá, as terras serão regularizadas e o terreno irá valorizar”, explica.

O Ecoa, do UOL, detalha que, nessa estratégia de ocupação especulativa, a pecuária é a ferramenta ideal, porque prescinde de infraestrutura de apoio, como silos, como na produção de grãos. E os tropeiros são fundamentais nesse processo: abrem picadas na floresta e tocam o gado por ela, andando por vezes até dias, sem precisar de estradas. Chegam até a região distante a ser desmatada e colocam novilhas por lá, que logo vão virar vacas e gerar bezerros.

“Eles abrem áreas imensas, com baixíssima produtividade. Consequentemente, a geração de emprego é pequena e a qualidade do emprego é ruim”, explica Barreto. Mesmo dentro da Amazônia, quando se compara a pecuária a outros setores, ela apresenta níveis maiores de informalidade e salários menores.

São esses salários baixos que tornam o sonho do peão de rodeio ainda mais atraente para os “caubóis da floresta”. Afinal, um campeão pode ganhar até R$ 30 mil se conseguir ficar montado no touro por pelo menos 8 segundos. Além disso, pode obter fama e oportunidades de patrocínio. Pouco importa o preço da devastação da Floresta Amazônica.


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