Movimentando mais de R$ 2 bilhões por ano, a cadeia produtiva da castanha do Brasil aposta na nanotecnologia para crescer. E o tucumã, antes considerado uma praga, virou “ouro” para comunidades do Pará. Além de gerar emprego e renda em negócios agro-sustentáveis, tais culturas ajudam a preservar a Floresta Amazônica

Uma nanomolécula de origem orgânica desenvolvida no Brasil e capaz de acelerar o crescimento das plantas pelo estímulo da fotossíntese e do metabolismo vai ser aplicada pela primeira vez em uma espécie amazônica. Criada pela startup brasileira Krilltech, a arbolina será utilizada para aumentar o potencial da castanheira, a fim de restaurar áreas desmatadas e degradadas da Floresta Amazônica, gerando créditos de carbono e renda.

O uso da nanotecnologia faz parte de uma iniciativa liderada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), que comanda uma rede de 60 cientistas de dez instituições, como a Embrapa e as universidades federais do Mato Grosso e de Viçosa. Em curso nos nove estados da Amazônia Legal, o projeto, além de transferência de tecnologia, vai produzir castanhas e madeira, que pode ser comercializada se originada de árvores plantadas, detalha O Globo.

A castanheira (Bertholletia excelsa) é um dos símbolos da Amazônia, mas seu crescimento é lento para a escala da necessidade de reflorestamento da floresta, diante da devastação já sofrida. Porém, é adaptável a diferentes microclimas e tipos de solo, explica José Francisco de Carvalho Gonçalves, do INPA, que coordena o estudo. Além disso, a castanheira tem tolerância à escassez de nutrientes, de água e variações de luminosidade e é uma das que mais estoca carbono.

A cadeia produtiva da castanha movimenta anualmente mais de R$ 2,3 bilhões. O fruto tem uma coleta quase 100% proveniente do  agroextrativismo por Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais da Amazônia. Isso torna a castanheira e seu fruto elementos centrais para a conservação da maior floresta tropical do mundo e para os modos de vida dos Povos que a produzem, destaca o CicloVivo.

Outro fruto amazônico, muito menos famoso que a castanha do Brasil, também vem gerando renda e emprego: o tucumã. Isso depois de ser considerado uma verdadeira “praga” durante muito tempo, por sua resistência e espinhos longos. Até que agricultores do Pará, como Jair de Oliveira Reis, descendente de quilombolas e indígenas, descobriram o potencial do fruto redondo e de casca amarela.

“Seu” Jair contou ao Ecoa, do UOL, que durante muito tempo ouviu falar que a árvore “não prestava” e era tachado de louco por querer protegê-la. Mas observar a natureza foi fundamental para ver que ali tinha coisa boa: “A gente observava que os bichos ficavam bem gordinhos na época do tucumã, então devia ter algo de bom nele, muita vitamina”, explica o agricultor.

Hoje, “seu” Jair é um dos produtores que fornecem o tucumã fresco a D’Irituia, cooperativa local que comercializa a amêndoa da fruta para a Natura. Ele é uma das 33 pessoas da região da cidade de Irituia (PA) beneficiadas diretamente pela cadeia do tucumã – indiretamente, são mais de 100. E são as mulheres que lideram o trabalho e também assumiram o controle da cooperativa, formando sozinhas o quadro diretor.

Assim como a castanheira, o tucumãzeiro não exige solo muito fértil. E a árvore ainda é resistente ao fogo. Por isso, também é vista como uma opção de recuperação florestal. Chamado de “Fênix da Amazônia”, o tucumãzeiro consegue rebrotar depois de queimadas e é uma espécie pioneira, capaz de se desenvolver em condições adversas e colonizar o ambiente para outras espécies.

Ainda que em diferentes escalas, as cadeias de valor da castanheira e do tucumã comprovam a importância da bioeconomia para manter a Floresta Amazônica em pé e também gerar qualificação, emprego e renda na região. Após sua participação no encontro do G7 em Hiroshima, no Japão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ressaltou que é preciso “explorar” os bens amazônicos sem destruí-los. “Eles [os Povos Amazônicos] têm direito de viver, de trabalhar, de comer, de ter acesso a bens materiais que todos nós queremos. E, por isso, precisam explorar não desmatando. Explorar a riqueza da biodiversidade para saber se podemos extrair a possibilidade de desenvolver uma indústria de fármacos, de cosméticos, por exemplo, para gerar empregos limpos”, disse Lula, de acordo com a Agência Brasil.


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