O desmatamento na Floresta Amazônica em abril foi o menor desde 2019. Entretanto, se as ações do governo contra a devastação começam a dar resultado, a chegada do El Niño pode aumentar o calor e a seca na região, facilitando a propagação de queimadas e ameaçando ainda mais o bioma

Após a apreensão causada pelos dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) sobre o desmatamento na Amazônia em fevereiro e março, os números de abril trouxeram algum alívio. De acordo com o INPE, os alertas de supressão florestal somaram 328,71 km² no mês passado. O número representa uma queda de 67,97% em relação a igual mês de 2022, quando foram contabilizados 1.026,35 km². Além disso, é o menor número registrado para o mês desde 2019.

No acumulado anual – de janeiro a abril -, a queda de 2022 para 2023 também é bastante expressiva: 40,36%. No primeiro quadrimestre deste ano foram registrados alertas de desmatamento em 1.173,4 km², no ano passado a área afetada foi de 1.967,69 km².

A CNN destaca que o Mato Grosso concentra o maior desmatamento na Amazônia Legal neste ano. Nos quatro primeiros meses de 2023, o estado foi responsável por 391,07 km² – ou seja, cerca de 1/3 do total acumulado na região.

Os números parecem refletir a intensificação das ações do governo federal no combate ao desmatamento e a outros crimes na Amazônia. Depois de quatro anos de total paralisia da fiscalização e mesmo de estímulo à devastação por parte do Poder Executivo, o fortalecimento das ações do IBAMA, do ICMBIO e de forças de segurança na Floresta Amazônica trazem esperança de uma mudança de paradigma.

Contudo, é preciso muita cautela. Primeiro, porque estamos a poucos meses de entrar no período seco amazônico, quando os ataques à cobertura vegetal se intensificam e são favorecidos pelas condições climáticas. Segundo, porque a seca sazonal pode ser intensificada pelo El Niño.

A incidência neste ano do fenômeno que aquece as águas do Oceano Pacífico na região tropical e modifica o clima em todo o planeta está cada vez mais provável. Por isso, especialistas ouvidos pelo ((o))eco mostram preocupação com os efeitos no combate à devastação da Floresta Amazônica.

“Como a Amazônia é muito úmida, em anos sem El Niño, quando o fogo entra no chão da floresta, na liteira, como é chamada essa camada de folhas e galhos caídos no chão, mesmo na estação seca, o fogo morre. Durante um El Niño isso não acontece. O fogo entra e se propaga e é muito difícil combater o fogo dentro da floresta”, explica Erika Berenguer, pesquisadora das Universidades de Oxford e Lancaster (Reino Unido) que estuda degradação florestal, fogo e desmatamento.

Entre 2015 e 2016, o El Niño causou secas severas na Amazônia. Por conta disso, cerca de 2,5 bilhões de árvores e cipós morreram devido à falta de umidade e também a incêndios, em uma área que representa apenas 1,2% de toda a floresta.

“Tivemos um final de ano com muito desmatamento. Só que não dá para queimar a vegetação no final do ano, quando ainda é muito úmido. Os desmatadores estão esperando o verão amazônico, a estação seca. Acredito que a gente vai ter muito, mas muito fogo escapando para dentro da floresta. Para evitar uma verdadeira catástrofe, precisamos de medidas imediatas de combate à degradação”, reforça a especialista.


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