Plataforma de IA desenvolvida pelo Imazon cruza dados históricos e variáveis que freiam e estimulam a devastação para prever tendências de devastação e alertar autoridades. Em outra frente, técnico do IBAMA cria método que revolucionou fiscalização de madeira ilegal, ampliando a punição a madeireiros e empresas

Agir contra o desmatamento da Floresta Amazônica é, muitas vezes, “chorar sobre o leite derramado”. Ou seja, mesmo com ações preventivas e de fiscalização para tentar evitar que a devastação ocorra, em geral somente após a descoberta de que algum mal já foi feito à vegetação é que se tenta evitar que o estrago aumente – um “jogo de gato e rato”, usando mais um ditado popular.

Para mudar esse quadro e ampliar a prevenção do desmatamento, pesquisadores do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) desenvolveram uma ferramenta de inteligência artificial. A plataforma PrevisIA tem como objetivo prever onde a devastação vai acontecer. Com isso, pode alertar autoridades e evitar a derrubada de áreas florestais.

O Um só planeta informa que a PrevisIA apontou Triunfo do Xingu, no Pará, como a Área de Proteção Ambiental (APA) com maior risco de desmatamento em 2023, com 271 km² de floresta a serem perdidos até o final do ano. Cerca de 5 km² já haviam sido destruídos em março. Por isso, agora o Imazon está estabelecendo parcerias com autoridades da região para interromper o desmatamento antes que ele comece.

O PrevisIA atua em duas frentes. Primeiro, enfoca as tendências presentes na região, analisando geoestatísticas e dados históricos do PRODES, o sistema governamental de monitoramento do desmatamento na Amazônia. Depois, analisa as variáveis que freiam a devastação – como terras protegidas por comunidades indígenas e quilombolas e áreas com corpos d’água que não se prestam à expansão agrícola – e também aquelas que tornam o desmatamento mais provável, como maior densidade populacional, presença de assentamentos e propriedades rurais e maior densidade de infraestrutura rodoviária, tanto legal quanto ilegal.

Até o momento, o Imazon tem parcerias oficiais com algumas promotorias estaduais da região, que esperam que o uso do PrevisIA leve a menos punições e mais prevenção. “Estamos sempre trabalhando para penalizar esses crimes e irregularidades ambientais. Mas do lado ambiental, o estrago já foi feito. Queremos inverter essa lógica. Queremos encontrar uma maneira de impedir que isso aconteça”, diz José Godofredo Pires dos Santos, promotor público do Pará e coordenador do Núcleo de Apoio Operacional Ambiental.

Ainda que não atue de forma preventiva, uma outra ferramenta, desenvolvida pelo botânico Felipe Guimarães, do IBAMA, revolucionou a fiscalização de madeira ilegal na Amazônia. Por esse trabalho, Guimarães venceu em novembro do ano passado, na categoria meio ambiente, o prêmio Espírito Público, da Parceria Vamos, que busca reconhecer a atuação de profissionais que transformam o serviço público e a sociedade.

Para entender como fiscalizar madeiras, o analista ambiental fez um curso em Brasília. E para aprender na prática, foi aos galpões onde as toras ficavam estocadas e pedia duas amostras de cada espécie. Uma delas mandava para o laboratório e a outra guardava, para comparar após o resultado. Assim, criou uma metodologia que aprimorou a fiscalização, permitindo que empresas ilegais e madeireiros fossem punidos. Até agora, mais de 300 identificadores foram formados, conta a Folha.

Como se vê, conhecimento é fundamental para preservar a floresta. Ainda mais quando pecuaristas e madeireiros insatisfeitos com as fiscalizações do IBAMA usam informações falsas nas redes sociais e em sites para mobilizar parlamentares e até mesmo o primeiro escalão do governo federal a pressionarem o órgão.

As operações que causaram tal reação foram batizadas de Retomada e Metaverso. Iniciada no começo de abril, a primeira foca na apreensão de gado em áreas que já tinham sido embargadas por desmatamento ilegal. Já a segunda, lançada em janeiro, combate a exploração ilegal de madeira, explica a Folha.

Em relação à operação Metaverso, as fake news diziam que mais de 90% da produção do Acre tinham sido paralisadas; que centenas de empresas tinham sido suspensas; e que a apreensão de gado estava em curso no estado. No entanto, somente 16 dos mais de 300 pátios de estocagem de madeira do Acre foram embargados. E deles, 14 receberam notificação que exige apresentação de documentos para que a situação seja regularizada.


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