Experiências na Floresta Nacional do Tapajós, no Pará, e no departamento de Pando, no norte boliviano reforçam o papel fundamental das comunidades locais nas iniciativas de preservação da Floresta Amazônica e de desenvolvimento de negócios agroflorestais sustentáveis

Não é novidade que a bioeconomia é uma das chaves para garantir a preservação da Floresta Amazônica e, ao mesmo tempo, levar desenvolvimento à região, garantindo emprego e renda às comunidades da Amazônia. Entretanto, tais soluções não podem ser buscadas ignorando-se o conhecimento local da floresta e de seus recursos. Sem os saberes locais, qualquer iniciativa nesse sentido estará fadada ao fracasso.

Não faltam exemplos de iniciativas bem-sucedidas que combinam conhecimentos técnicos e acadêmicos com a experiência e os saberes de quem vive o dia a dia da Amazônia. Um deles está na Floresta Nacional (FLONA) do Tapajós, no Pará. Nela há a prática do manejo florestal comunitário, que retira a madeira de uma forma legal, ajudando a floresta e as comunidades locais.

O Profissão Repórter visitou uma cooperativa que fabrica móveis com madeira extraída na FLONA do Tapajós, onde mais de mil famílias sobrevivem do manejo. A autorização para explorar a floresta é dada em lotes. Em cada um deles só é permitido derrubar quatro árvores de grande porte. Depois, o local é preservado para recuperação. Os lotes só podem ser explorados novamente após 35 anos.

“A cada ano é destinado um lote, para a floresta crescer e a gente poder fazer um segundo ciclo, como a gente chama. A gente faz móveis – porta, cadeira, mesa, armários – e atende também muita demanda de designer famoso. Esse manejo florestal comunitário é a porta de saída para um mundo melhor. Porque aqui não se esgota, aqui sempre tem. Lá vai acabar, está acabando. Aqui vai ficar sempre em pé”, exalta Arimar Feitosa, coordenador da movelaria.

A fábrica de móveis emprega 11 pessoas, todas moradoras da região, e fatura R$ 6 milhões por ano. O lucro é reinvestido na melhoria de vida da comunidade.

Outro exemplo vem da vizinha Bolívia. No departamento de Pando, no norte boliviano, próximo à fronteira com o Peru e o Brasil, um “exército” de pessoas tira proveito da Floresta Amazônica sem derrubar uma árvore. O grupo recolhe castanhas – na verdade, sementes de Bertholletia excelsa, árvore nativa da América do Sul que pode alcançar 60 metros de altura e viver até 1.000 anos.

Até 80.000 famílias indígenas participam da colheita de castanha, conta Luis Larrea, coordenador da Associação Boliviana para a Pesquisa e Conservação de Ecossistemas Andino-Amazônicos. A produção representa apenas 1% ou 2% do PIB do país, mas garante a conservação de 87.000 km² quadrados de floresta, “7% da superfície total de florestas do país”, destaca Larrea à AFP, em matéria replicada pelo UOL e pela Rádio Itatiaia.

Em 2020, a Bolívia chegou a ser o principal exportador da castanha-do-pará ou castanha em casca, segundo a ONG Instituto Boliviano de Comércio Externo (IBCE). No ano passado, Holanda (35%), Estados Unidos (20%) e Alemanha (14%) foram os principais destinos das exportações, que chegaram ao total de US$ 250 milhões, segundo o IBCE.


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