Empresa de Nova York é investigada por envolvimento com contrabando de ouro ilegal extraído na Amazônia

Uma reportagem da Repórter Brasil e da NBC News detalhou as investigações em torno de um esquema de contrabando de ouro extraído ilegalmente da Amazônia brasileira para uma empresa sediada em Nova York, nos Estados Unidos.

Em uma abordagem realizada no aeroporto de Manaus no começo de 2020, a PF chegou a apreender um carregamento de 35 kg de ouro estimado em cerca de R$ 10 milhões. A carga estava em posse dos norte-americanos Frank Giannuzzi e Steven Bellino e do brasileiro Brubeyk Nascimento. Questionados, eles inicialmente afirmaram que o ouro seria decorrente do reaproveitamento de joias derretidas.

No entanto, uma análise de raio-x feita ainda no aeroporto mostrou que a composição química do material correspondia a metal recém-extraído, com impurezas “frequentemente encontradas em ouro de garimpo e nunca encontradas em material reciclado”.

De acordo com a PF, o ouro apreendido em Manaus provavelmente veio da Província Aurífera do Tapajós, no sudoeste do Pará, onde estão três das Terras Indígenas mais impactadas pelo garimpo ilegal no Brasil: Munduruku, Sawré-Muybu (Pimental) e Sai-Cinza.

A reportagem apurou que os cidadãos norte-americanos que tentaram embarcar com o ouro para Nova York são sócios da Doromet, uma empresa com sede em Manhattan, a poucas quadras da famosa Times Square. Eles teriam conhecido Nascimento em 2019, quando começaram a explorar os caminhos para importar ouro da América do Sul para os Estados Unidos e Turquia.

A primeira remessa dessa parceria foi exatamente aquela apreendida pela PF; no entanto, as investigações indicam que outros carregamentos foram feitos – esses com sucesso. Dados levantados pela PF mostraram que a empresa de Nascimento, Bamc Laboratório de Análise de Solos e Minérios Ltda., aumentou em 65 vezes a aquisição anual de ouro entre 2019 e 2022, saltando de 35 kg para quase 2,28 mil kg. 

Outro nome envolvido no esquema seria o do bilionário austríaco naturalizado brasileiro Werner Rydl. Em novembro de 2019, ele assinou um contrato com a Bamc, no qual se comprometeu a fornecer até 700 kg de ouro de reaproveitamento de joias. O montante é irreal: para se obter tamanho volume, seria necessário o processamento de mais de 200 mil alianças de ouro por mês. Nem mesmo juntando todos os brasileiros divorciados em 2022 seria suficiente para atender essa demanda.

As investigações mostraram também que a Bamc comprou ouro de outros 13 fornecedores com lavras garimpeiras nos estados do Pará e Tocantins. A operação é ilegal, já que a primeira compra de ouro direto dos garimpos deve ser feita somente pelas Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM), autorizadas pelo Banco Central, o que não é o caso da empresa de Nascimento.

Ainda sobre a origem suspeita do ouro processado pela Bamc, a reportagem identificou a principal lavra garimpeira fornecedora da empresa. Ela está localizada em Cumaru do Norte (PA), nas proximidades da Terra Indígena Kayapó. A lavra em questão teria fornecido mais de 2 toneladas de ouro para a empresa somente em 2022. No entanto, imagens de satélite da região mostram que não há indícios de exploração mineral compatível com esse volume de metal, o que reforça a suspeita de “lavagem” de ouro.

A Folha também publicou a reportagem.


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