Pesquisa mostra que 61% dos insetos que vivem nas copas das árvores não são encontrados no solo amazônico. Enquanto isso, garimpeiros e grileiros põem em risco um santuário de árvores gigantes, com mais de 80 metros e 400 anos de idade

Pesquisas sobre insetos amazônicos costumam ser feitas no chão da floresta. Contudo, um estudo inédito feito por cientistas nas copas de árvores da Amazônia constatou que a diversidade desses animais é muito maior do que se sabia. O que reforça a necessidade de preservar a mata para garantir a sobrevivência dessas espécies, fundamentais para a polinização de árvores e plantas da região.

O autor do trabalho é o entomólogo Dalton de Souza Amorim, do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP. Ele conta que 61% das espécies encontradas nas copas das árvores nunca apareceram na amostra do solo. “O que o projeto mostra é a complexidade, não só em números impressionantes, como a complexidade da fauna e da flora”, disse ele ao g1.

Para coletar as amostras, o grupo liderado por Amorim instalou cinco armadilhas de interceptação de voo no mesmo eixo vertical da Estação Experimental de Silvicultura Tropical, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Trata-se de uma torre de mais de 50 metros, em uma região de floresta delimitada para estudos científicos próxima a Manaus, capital do Amazonas. A armadilha mais alta estava a 32 metros do chão. E a cada duas semanas, as amostras eram retiradas das redes.

Em pouco mais de um ano foram contabilizados 38 mil exemplares de insetos – e somente na primeira coleta. O mais surpreendente: cerca de 90% das espécies coletadas ainda não são descritas pela ciência.

“Se eu explodisse uma bomba na Amazônia, e essa bomba fosse capaz de matar só os insetos, estaria comprometendo a sobrevivência das demais espécies, inclusive a humana. Não teria mais o polinizador, por exemplo, para a castanheira, para a andiroba, para as fruteiras e, com isso, não teria também alimento para os peixes”, exemplificou o pesquisador do INPA, José Albertino.

As árvores, portanto, podem surpreender como lar de insetos desconhecidos e cruciais para polinizar a vegetação. Mas, na Floresta Estadual (FLOTA) do Paru, no norte do Pará, uma ameaça a uma cobertura vegetal em particular vem preocupando cientistas. A região abriga um santuário de árvores gigantes – a maior delas, um angelim vermelho, chega a quase 90 metros de altura, tamanho de um prédio de 24 andares, e é a maior árvore da América Latina catalogada. No entanto, ao lado desse paraíso, há um garimpo, que dificulta até mesmo o acesso de pesquisadores à área.

A descoberta do santuário das árvores gigantes – que têm idades estimadas entre 400 e 600 anos – ocorreu durante uma pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), entre 2016 e 2018, conta Jakeline Pereira, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). O angelim vermelho de 88,5 metros, porém, foi descoberto somente em setembro de 2022, relata o DW.

Além do garimpo, Pereira aponta outra ameaça ao santuário: a grilagem. Segundo a pesquisadora, o desmatamento está ocorrendo na FLOTA por conta da instalação de fazendas – “de propriedades ditas particulares de pessoas que estão migrando para o Pará”, ressalta ela.

“Por conta da dificuldade do acesso, existem poucos estudos neste território enorme. A FLOTA do Paru faz parte de um grupo de Áreas Protegidas que compõem 22 milhões de hectares. É um bloco enorme, um grande corredor da biodiversidade”, detalha Pereira.

E falando em insetos e biodiversidade amazônica, um projeto liderado pelo Instituto Tecnológico Vale (ITV) permitiu a multiplicação de ninhos de abelhas nativas, aumentando a disponibilidade de colônias para criação. Com a Biofábrica de Abelhas Indígenas de Carajás, também no Pará, são encontradas 110 espécies de abelhas nativas entre 244 já catalogadas no país.

Como destaca o Um só planeta, as abelhas nativas têm papel fundamental na produção de alimentos na região amazônica. Isso se dá por meio da polinização de plantas importantes como o açaí, o guaraná e a castanha do Pará. Além disso, esses insetos colaboram na polinização de diversas culturas agrícolas.


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