Novos dados do INPE mostram que a área devastada atingiu 291 km2 entre 1º e 24 de fevereiro. Números podem impressionar, mas devem ser vistos com cautela.

A mais recente atualização sobre o desmatamento na Amazônia em fevereiro mostra que a área devastada atingiu 291 km2 entre os dias 1º e 24 do mês passado, como informou o Jornal Nacional. A devastação corresponde a uma área equivalente à cidade de João Pessoa, capital da Paraíba, reforçaram o Poder 360, o Último Segundo e o Pará Terra Boa.

Na semana anterior, o número já era recorde para o mês desde o início da série histórica, iniciada em 2015. Os alertas do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (DETER), administrado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), responsável pelo monitoramento, mostraram que 209 km² foram desmatados até o dia 17 de fevereiro. Até então, a maior devastação em fevereiro havia ocorrido em 2022, com 199 km2.

Os novos dados podem parecer um balde de água fria diante dos números de janeiro, quando o DETER identificou uma área desmatada de 167 km², ante 430 km² em igual mês de 2022. Contudo, tanto as informações do primeiro mês deste ano como as de fevereiro precisam ser vistas com ressalvas – ainda que não se deva diminuir a preocupação e a vigilância em torno do tema.

Um dos primeiros motivos para a cautela diz respeito ao próprio clima amazônico. O período chuvoso na região se dá entre dezembro e março, e é habitual ocorrer quedas nas taxas de desmatamento nesses meses. Em janeiro, porém, houve uma alta cobertura de nuvens, o que pode ter afetado o levantamento do INPE.

Assim, a devastação da Amazônia captada em fevereiro pode não ter ocorrido nesse mês, como disse ao g1 o especialista em Conservação do WWF-Brasil, Daniel Silva.

“O aumento da área desmatada nos primeiros dias de fevereiro deve ser interpretado com cautela. Tivemos um aumento de nuvens em janeiro e o DETER pode estar detectando em fevereiro desmatamentos que ocorreram no mês passado”, explicou.

O combate ao desmatamento e aos crimes ambientais é uma pauta prioritária do atual governo. E uma das estratégias envolve o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). O órgão deve aumentar a quantidade de embargos a áreas onde ocorreram infrações, conta o colunista Guilherme Amado, no Metrópoles. Os embargos impedem o desenvolvimento de qualquer atividade econômica no local, bem como a oferta, pelos bancos, de linhas de crédito para fazendeiros em áreas embargadas.

Assim, os recentes números do desmatamento amazônico não devem ser desanimadores, nem colocar em dúvida a disposição do governo federal em atacar o problema. Como disse ao g1 Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, a queda nos números de desmate deve ser vista nos próximos meses.

“É óbvio que em janeiro e fevereiro não veríamos nos números de alerta a ação do governo. Ele está começando a arrumar a casa. Vamos ver esses números daqui uns dois, três meses. Vamos começar a ver a curva de diminuição ou manutenção, mas precisamos dar um tempinho para o governo”, reforçou.

Além das ações governamentais, mais iniciativas vão sendo lançadas para agregar ainda mais ferramentas ao combate à devastação amazônica. Uma delas é a cartilha “Soluções para o desmatamento na Amazônia”, do Amazoniar, iniciativa do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) para a promoção de um diálogo global sobre a Amazônia. O documento detalha quatro soluções possíveis: destinação de florestas públicas; incentivo à conservação em Áreas Privadas; aumento da produtividade agropecuária; e fortalecimento de comando e controle.

Outra iniciativa, noticiada pela Agência Brasil e pelo projeto Um Só Planeta, é da BRCarbon, startup que promove soluções climáticas naturais com recursos financeiros do mercado de carbono para mitigar os efeitos das mudanças climáticas globais. A empresa desenvolveu um drone com sensor remoto Lidar (do inglês Light Detection and Ranging), que usa tecnologia óptica de detecção remota, para o mapeamento tridimensional das florestas. O equipamento começou a operar no Projeto Cauaxi de conservação, que está sendo desenvolvido na macrorregião de Paragominas, no interior do Pará.


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