Ao contrário de janeiro, dados de fevereiro mostram alta na derrubada da floresta

A palavra cautela vem sendo usada por especialistas em Amazônia para classificar o ritmo do desmatamento da floresta neste início de governo Lula. É fato que é muito cedo para saber se as medidas do novo governo federal contra crimes ambientais já estão impactando positivamente ou não a ponta da cadeia.

Como mostra o portal g1, mesmo antes do fim de fevereiro, os alertas de desmatamento do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (DETER), administrado pelo INPE (Instituto de Pesquisas Espaciais) apontam um cenário negativo. Os dados indicam que 209 km² foram desmatados até o dia 17 de fevereiro – a maior marca para o mês em toda a série histórica, iniciada em 2015. Em termos regionais, Mato Grosso (129 km²), Pará (34 km²) e Amazonas (23 km²) são os estados que aparecem entre os maiores desmatadores.

“O aumento da área desmatada nos primeiros dias de fevereiro deve ser interpretado com cautela. Tivemos um aumento de nuvens em janeiro e o DETER pode estar detectando em fevereiro desmatamentos que ocorreram no mês passado”, alerta ao g1 Daniel Silva, especialista em Conservação do WWF-Brasil.

Em janeiro, como relata André Borges no Estadão, tinha sido registrado uma forte queda no desmatamento em relação ao mesmo mês de anos anteriores. Foram 167 km² em janeiro de 2023, diante de 430 km² em janeiro de 2022. O fato de também estarmos nos meses chuvosos para o cenário amazônico, onde normalmente o desmatamento tende a cair por questões logísticas, preocupa Suely Araújo, especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima.

Segundo Suely Araújo disse ao Estadão, os dados “evidenciam uma situação extremamente grave deixada por quatro anos do governo Bolsonaro, período que teve a maior alta percentual de desmatamento da história. A reversão de tamanho descontrole não se faz de um dia para o outro. O momento agora é de reconstrução da política pública, o que será acompanhado de perto pela sociedade civil.” Para os especialistas é preciso esperar pelo menos quatro meses para que os resultados da atual política ambiental brasileira – o atual governo promoveu uma guinada em relação ao governo anterior – surta efeito.

“O novo governo retomou formalmente o Fundo Amazônia e o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm), está tomando todas as medidas necessárias para a operacionalização desses instrumentos e, principalmente, reforçou as ações de fiscalização”, comentou Suely também no Estadão.

A ligação entre o crime organizado e o desmatamento é que está por trás dos números expressivos da destruição florestal nos últimos anos. Como lembra o climatologista Carlos Nobre em entrevista à CNN Brasil, terminar com a destruição da floresta na Amazônia é quase a mesma coisa que acabar com o desmatamento ilegal. “O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) tem uma listagem de todo tipo de desmatamento: o de corte raso, degradação florestal, principalmente associada à extração ilegal de madeira, mineração ilegal, com pistas de pouso para o garimpo, por exemplo, queimadas. Com essa listagem, o INPE produz dados diariamente e envia para órgãos de fiscalização. Mais de 95% dos desmatamentos da Amazônia são ilegais e precisam ser eficazmente combatidos”, ratificou Nobre. 

Os números de fevereiro gerados pela plataforma Terra Brasilis, só reforçam a necessidade da tomada de mais ações pelos governos, inclusive para proteger a economia. “O agronegócio moderno já enxerga que não é esse o caminho [o do desmatamento] e que, economicamente, é péssimo para o agronegócio. Com o novo marco legal da Europa, desde janeiro de 2021 o Brasil não consegue exportar nenhuma quantidade de alimentos, grãos e carnes, feitos em área desmatada”, afirmou o especialista brasileiro.

Em tempo: O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, em reunião com representantes das secretarias de Segurança Pública dos nove estados brasileiros que fazem parte da Amazônia Legal, apresentou na semana passada o AMAS (Plano Amazônia Mais Segura). O foco, além de proteção às fronteiras internacionais da região, é combater os crimes ambientais no norte do Brasil e o tráfico de drogas. Como informa o Portal Metrópole, a ideia do governo é financiar o plano com recursos do Fundo Amazônia.