Controle do espaço aéreo está estrangulando as operações ilegais. Porém, os que permanecem ainda deixam rastro de destruição; três indígenas foram mortos

Vídeos divulgados pelo g1 mostram garimpeiros fugindo da Terra Indígena Yanomami por barcos, pelo rio Uraricoera, e a pé, pela floresta de Roraima. O anúncio da megaoperação do governo federal para a retirada dos garimpeiros com o apoio da Força Nacional, associado às restrições do espaço aéreo impostas desde o início do mês – impedindo a chegada de alimentos e o escoamento do ouro extraído ilegalmente – estão surtindo efeito. Ainda de acordo com a reportagem, pelo menos cinco mil garimpeiros (dos 20 mil que ocupam o território) estariam dispostos a deixar a reserva voluntariamente.

Entretanto, alguns problemas estão sendo enfrentados na fuga. Um deles é o preço dos voos, inflacionado devido ao controle do espaço aéreo, como mostra a Folha. A matéria aponta que “um único voo passou a custar R$ 15 mil por pessoa, conforme relatos de invasores levados em conta no monitoramento feito pela PF [Polícia Federal]”. Nos vídeos que circulam nas redes sociais, alguns dizem estar ilhados, com escassez de mantimentos e sem conseguir sair da TI. Parte dos garimpeiros tenta chegar à Venezuela; outros, à Guiana.

A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, que chegou à região no sábado (4) para acompanhar a força-tarefa, disse que a fuga é um bom indicativo. “É bom que saiam, assim a gente diminui a operação que vai ser feita. Se eles saem sem precisar da força policial, é melhor para todo mundo”, disse em entrevista coletiva repercutida pelo UOL.

O Globo destacou a declaração da ministra: “Para sair da situação de emergência de saúde é preciso combater a raiz, que é o garimpo ilegal (…) Não é possível que 30 mil indígenas sigam convivendo com 20 mil garimpeiros em seu território”.

Em entrevista à GloboNews reproduzida no Fantástico deste domingo (5), o médico Eugênio Scannavino, que atua em 80 comunidades indígenas da região, mostrou preocupação com a fuga desorganizada dos garimpeiros, que possuem “uma cultura de ilegalidade”. Segundo Scannavino, ao procurarem novos lugares, levam com eles doenças e danos ambientais. Ele aponta a importância de se criar uma política para os garimpeiros que estão na ponta, para que não continuem fazendo o que sabem fazer, “que é procurar ouro, procurar madeira ilegal, peixe ilegal, etc.”.

Ainda de acordo com o g1, o destino dos garimpeiros é uma preocupação também da assessora de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI), Lucia Alberta Andrade. Um dos riscos é o de migração para outras Terras Indígenas, como a Raposa Serra do Sol, também em Roraima.

Enquanto uns fogem, outros permanecem deixando um rastro de destruição e mortes na TI Yanomami. Conforme outra matéria do g1, três indígenas foram mortos por garimpeiros na região de Homoxi, dentro da reserva. A informação é de lideranças das regiões de Haxiu e Whaputa, e foi repassada à imprensa neste domingo (5) por Júnior Hekurari Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena.

Também no domingo, Luciano Abreu abriu a reportagem de mais de seis minutos do Fantástico sobre a crise humanitária da TI Yanomami, mostrando o caso de mais uma criança que sucumbiu à desnutrição severa. O pequeno Yanomami tinha um ano e cinco meses e, devido ao mau tempo, não pode ser transferido para Boa Vista, capital de Roraima. Chegou a ser atendido no posto de saúde de Surucucu, dentro da TI, mas não resistiu. Segundo Abreu, outras 12 crianças com desnutrição grave precisam de um suplemento alimentar que ainda não está disponível no Brasil.

O garimpo na região aumentou 300% nos últimos quatro anos de leniência do governo Bolsonaro – 54% só em 2022. Os primeiros passos – como assistência à saúde dos indígenas, investigações de responsabilidades e combate ao crime – já estão em curso, com a volta do Estado à região. Espera-se que o processo seja o mais célere possível, para que vidas Yanomami, a floresta e os rios sejam preservados e protegidos.


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