Estudo publicado na revista Science mostra impactos da ação humana na degradação da floresta; enquanto isso, guardiões seguem lutando pela vida

O alerta vermelho publicado na sexta-feira (27/1), na capa da prestigiada revista científica Science, é taxativo. Uma única espécie, a nossa, está acelerando o ritmo de degradação e colocando a maior floresta tropical do planeta em risco. A impressão digital, para além do desmatamento, está estampada no ritmo imposto à degradação de 38% da floresta que ainda permanece em pé.

A escala de tempo desse processo, que ocorreria em milhões de anos, se dependesse apenas de fenômenos naturais geológicos ou climáticos, é reduzida para séculos ou décadas, devido à pegada humana.

A perda gradual da floresta é multifatorial, provocada por incêndios, retirada de madeira, fragmentação do bioma, erosão do solo, secas extremas em decorrência da crise climática e efeitos secundários de supressão vegetal.

Para agravar o quadro, a degradação florestal emite algo entre 50 e 200 milhões de toneladas de dióxido de carbono ao ano, volume pouco menor que o provocado pelo desmatamento em si. Isso retroalimenta o ciclo destrutivo de impactos do aquecimento global sobre a própria floresta, como destaca o Observatório do Clima.

Liderado por cientistas brasileiros, o artigo sistematiza os dados necessários para que tomadores de decisão ajam rápido para conter a destruição. “Conforme nos aproximamos de um ponto de virada irreversível para a Amazônia, a comunidade global precisa agir agora […]. Abandonar a Amazônia é abandonar a biosfera”, escreveram os autores, em trecho destacado pela Folha.

“A revisão que publicamos dá o primeiro passo nessa comparação [da velocidade de degradação do ambiente] na Amazônia e soa um alarme de que precisamos, imediatamente, interromper o desmatamento e mergulhar fundo na quantificação dos diferentes processos naturais em todas as esferas”, disse Pedro Val, professor do Queens College de Nova Iorque, à repórter Roberta Jansen, do Estadão.

Políticas de incentivo à bioeconomia sustentável e de valorização da biodiversidade e dos Povos Indígenas foram mencionadas pelo pesquisador como ações necessárias para frear a devastação.

Embora esses sejam compromissos assumidos pelo novo governo, o que se vê atualmente na Amazônia é uma gestão de crise para reverter o estrago provocado pela leniência e até pelo incentivo da gestão Bolsonaro ao avanço do crime organizado em território amazônico.

Guardiões da floresta, que a protegem por séculos, estão lutando pela própria sobrevivência. A tragédia humanitária que devasta o povo Yanomami é emblemática.

De acordo com o repórter Luciano Abreu, no Fantástico, mais sete indígenas morreram, nos últimos dias, sendo uma Yanomami de 33 anos, que estava internada na UTI do Hospital Geral de Roraima, devido à desnutrição grave, e outros seis, em comunidades cercadas pelo garimpo ilegal na região de Surucucu, dentro da Terra Indígena. Até domingo (29), quatro corpos ainda permaneciam na floresta.

Mais de mil Yanomamis já foram resgatados, e 30 toneladas de remédios e alimentos, distribuídos. Ainda de acordo com a reportagem, uma equipe do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania chegou no domingo à região, para apurar violações aos direitos dos indígenas na Terra Indígena Yanomami.

O Fantástico também exibiu uma reportagem especial, de Sonia Bridi e Paulo Zero, sobre o que testemunharam por lá, na semana passada.

A situação, que está sendo investigada pela Polícia Federal como crime de genocídio, foi comparada ao Holocausto por grupos de judeus, como destacaram o Metrópoles e a Folha.

O caso Yanomami, assim como a degradação de mais de um terço da Amazônia, reflete as consequências sombrias da ganância humana sem precedentes, que deixa um rastro de destruição e mortes e coloca a todos em risco de extinção.


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