Série de reportagens relata como as árvores amazônicas são pilhadas

Por mais que o ex-presidente Bolsonaro tenha buscado desacreditar o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) durante o seu governo, e colocado em xeque o trabalho profissional e técnico da equipe que monitora o desmatamento da Amazônia,  a realidade nua e crua da destruição florestal se impõe frente a factoides. Ainda mais em áreas dentro do chamado “arco do desmatamento”, como é o caso do município de Lábrea, no sul do Amazonas.

A jornalista Fernanda Wenzel, do The Intercept Brasil, detalha como agem os saqueadores de árvores que operam na região, em mais um capítulo da série de reportagens especiais sobre a Amazônia. O levantamento, feito com exclusividade pelo portal investigativo, revela que 45 mil caminhões carregados de toras saíram de uma mesma área dentro de Lábrea, entre 2013 e 2021. A maior parte da madeira vem do fatiamento dos troncos de ipês e jatobás, espécies supervaliosas. As carretas formariam uma fila de 450 quilômetros, o equivalente à distância entre as cidades de São Paulo e Curitiba.

Como mostra a reportagem, parte da extração da madeira é realmente clandestina. Porém, muitas árvores saíram da floresta legalizadas, devido a fraudes cometidas por grileiros em relação aos verdadeiros proprietários da terra. A grilagem, portanto, na quase totalidade das vezes, anda de mãos dadas com o desmatamento. O processo é o primeiro passo a ser dado, uma vez que, por lei, ninguém pode fazer manejo florestal ou nenhuma outra atividade em terras que não lhe pertencem.

A ação de criminosos, de acordo com os vários estudos que se debruçam sobre a floresta amazônica, é apenas um dos grandes problemas da região, atualmente. Na realidade, o desmatamento que ocorre em decorrência dos crimes ajuda na potencialização das mudanças do clima que, em suma, aparece, por exemplo, sob a forma de períodos secos mais extensos.

É um processo, como mostra Evanildo da Silveira, no portal Um Só Planeta, que se desdobra em mais um efeito perverso. Pesquisa capitaneada pelo cientista brasileiro Henrique Barbosa, da USP e da Universidade de Maryland (EUA), mostra que, para cada três árvores que morrem de sede na floresta por causa das grandes estiagens, uma quarta, mesmo não afetada diretamente pelo fenômeno, também vai desaparecer. “Descobrimos que, mesmo que um período de seca afete apenas uma região específica da floresta, seus danos se estendem além dela por um fator de 30%”, afirma Barbosa, na reportagem. “Como a falta de chuva diminui fortemente o volume de reciclagem de água, também haverá menos chuvas em regiões vizinhas, colocando ainda mais partes da floresta sob estresse hídrico.”

Todos esses processos, sejam envolvendo os crimes gerados diretamente pelo ser humano ou os decorrentes de suas ações, como o novo padrão climático, precisam não apenas de políticas públicas para serem enfrentados, mas também de muito embasamento científico e tecnológico. Nesse contexto, o pré-projeto do climatologista Carlos Nobre, nomeado Instituto de Tecnologia da Amazônia (AmIT), deve gerar bons frutos para a região.

Segundo Nobre, em entrevista ao ECOA UOL, a iniciativa propõe reunir, em torno de uma visão transversal para a Amazônia, não apenas o Brasil, mas outros países da Pan-Amazônia, como Colômbia, Bolívia, Peru e Equador. “A ideia é termos um instituto de desenvolvimento de tecnologia no mesmo padrão do MIT [renomado Instituto de Tecnologia de Massachusetts], só que o AmIT já está sendo pensado e desenvolvido desde o início como pan-amazônico”, explicou o climatologista.


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