Comunidades isoladas estão ainda mais ameaçadas por mineração e grilagem

Desmatamento, incêndios, grilagem, mineração e desestruturação de políticas públicas foram identificadas como as principais ameaças às Terras Indígenas (TIs) com povos isolados na Amazônia. A constatação é do estudo “Isolados Por um Fio: Riscos Impostos aos Povos Indígenas Isolados”, publicado pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) e pela COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira). O levantamento apontou que seis das dez TIs com maior alta de desmatamento na Amazônia, entre 2019 e 2021, têm povos isolados. O período coincide com o do governo Bolsonaro, quando a situação foi agravada. O estudo ganhou visibilidade, por exemplo, no Poder 360. A reportagem aponta que as regiões mais afetadas estão espalhadas pelo Pará (Ituna/Itatá, Kayapó e Munduruku), por Roraima e Amazonas (Yanomami) e em Mato Grosso (Piripkura e Parque do Xingu). Entre os povos indígenas isolados, 34% não tiveram seus processos de regularização fundiária concluídos.

O estudo indica também que 12 territórios com povos isolados estão sob risco “alto” ou “muito alto” por garimpo, grilagem, desmatamento e queimadas. Desses, quatro encontram-se em situação crítica: Ituna/Itatá (Pará), Jacareúba/Katawixi (Amazonas), Piripkura (Mato Grosso) e Pirititi (Roraima). A questão fundiária é uma das grandes demandas dos Povos Originários e deverá receber  atenção especial da ministra dos Povos Indígenas Sônia Guajajara, empossada oficialmente nesta quarta-feira (11/1). Em seu discurso, ela destacou o quanto os Povos Indígenas foram atacados secularmente e defendeu a necessidade de uma reparação histórica, como destacou o UOL.

Ainda sobre o estudo, Élcio Severino da Silva Manchineri, coordenador-executivo da COIAB, disse ao Poder 360 que “os nossos territórios e os dos nossos parentes isolados estão cada vez mais sendo invadidos por madeireiros, narcotraficantes, garimpeiros e outros predadores de floresta, colocando em risco nossas vidas e daqueles que optaram por não interagir com a sociedade ocidental, após traumáticos encontros com os não indígenas”.

Além dos crimes em geral, que aumentaram no interior na floresta, grandes projetos de mineração na região preocupam os Povos Originários. No caso específico do Amazonas, como relata Wérica Lima, no Amazônia Real, uma das prioridades do segundo mandato do governador bolsonarista Wilson Lima (União Brasil) é a exploração de silvinita no município de Autazes. O minério é fonte para o potássio, usado na produção de fertilizantes. O projeto da iniciativa privada – do grupo empresarial Potássio do Brasil, controlado pelo banco canadense Forbes & Manhattan – tem apoio das autoridades estaduais, de acordo com o texto, e possui um imbróglio envolvendo o pedido de licenciamento. O Ministério Público Federal quer que os indígenas da região (TI Soares/Urucurituba) sejam ouvidos, e que a apreciação dos riscos socioambientais seja feita pelo Ibama, órgão federal, e não no âmbito estadual. A luta pela demarcação das Terras Indígenas na região designada para a implementação do projeto perdura desde 2003. Por outro lado, existe pressão forte para que os indígenas aceitem a obra, segundo a reportagem.


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