Várias frentes precisarão ser enfrentadas ao mesmo tempo pelo governo que assume no dia 1º de janeiro. Uma parte da herança que […]

Várias frentes precisarão ser enfrentadas ao mesmo tempo pelo governo que assume no dia 1º de janeiro. Uma parte da herança que Lula precisará administrar na área ambiental são os altos níveis de desmatamento na Amazônia. Parte da conta, inclusive, é bem conhecida. E os valores assustam.

Como registra a Folha, a contabilidade do mês de novembro mostra 554,6 km2 de floresta sob alerta de desmatamento. O que é um aumento de 122% de destruição em relação a novembro do ano passado. No acumulado de 2022, são mais de 10 mil km2 de floresta derrubada. Como escreve Phillippe Watanabe, “os anos Bolsonaro dominam, com ampla margem, o ranking de derrubada de floresta do histórico recente do DETER, a partir de agosto de 2015.”

Quando o recorte é feito apenas para o ano de 2022, ficam mais evidentes os problemas que a nova gestão ambiental do país vai precisar administrar. Os alertas de desmatamento de agosto a novembro já acumulam um valor significativo, de 4,54 mil km2. Número que deverá ser computado, junto com o período que vai de dezembro deste ano a julho de 2023, já pela nova administração. O problema é tão real que a equipe de transição trabalha para separar os números de Bolsonaro dos de Lula quando o tema é o desmatamento da Amazônia.

O combate ao crime organizado é uma outra linha de ação que também precisará ser estruturada a partir de Brasília. As ramificações que acabam por interferir na preservação de floresta são muitas. Uma delas, como desvenda este documentário da Vice, tem a ver com o contrabando de mercúrio em países vizinhos, e destes para o Brasil. O metal líquido é uma das engrenagens mais eficientes de sustentação da mineração ilegal na Amazônia.

Sem estruturas eficientes, sem recursos financeiros e humanos, nem o desmatamento e nem o crime organizado serão enfrentados. E esse é mais um problema grave que precisará ser resolvido nos próximos meses. Como mostra uma análise detalhada feita por especialistas da área ambiental publicada pelo ((o))eco, a degradação progressiva das instituições governamentais registrada nos últimos anos deixou consequências bastante graves.

Uma delas, por exemplo, tem a ver com relação próxima que existia entre analistas ambientais representando o governo local com as próprias comunidades locais dos estados amazônicos. “O que ocorreu nestes últimos anos de desgoverno não se reflete somente na redução orçamentária das instituições, mas também no redirecionamento interno, à inibição do funcionamento e o consequente enfraquecimento de atividades mais cruciais (como fiscalização) e estratégicas (como melhor relacionamento com a sociedade local e com os Povos Indígenas e outros Povos e comunidades tradicionais). A degradação das instituições ocorreu em múltiplos aspectos, em várias frentes”, afirmam os 14 especialistas que assinam o texto.

O desmonte generalizado também é alvo de preocupação da equipe de transição, não apenas pelo time ter que fazer um plano de reconstrução da política ambiental brasileira, mas também, porque alguns especialistas entendem que houve crime no que foi feito pelo governo que está acabando agora.

Tanto que Jorge Viana, como informa o Observatório do Clima, coordenador do grupo de Meio Ambiente do gabinete de transição, afirma que estão sendo estudadas formas de responsabilizar criminalmente integrantes do governo Bolsonaro. “Chegamos à conclusão, no primeiro relatório que fizemos, de que houve uma ação deliberada, uma ação que certamente vai ter que ter responsabilização criminal”, afirmou Viana, ex-governador do Acre e ex-senador. Para o engenheiro florestal, a área ambiental é “símbolo do desmonte que ocorreu no país nos últimos quatro anos, para dentro e para fora”.


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