Com quase 90 metros de altura, o angelim-vermelho fica no Norte do Pará, em uma região que sofre com a escalada do desmatamento.

Se a seleção de futebol será hexacampeã da Copa, ainda não é possível saber. Mas, por enquanto, os brasileiros podem celebrar outro título: o de possuir a árvore mais alta da América Latina e a quarta maior do mundo, do tamanho de um prédio de 30 andares. O angelim-vermelho, espécie cujo nome científico é Dinizia excelsa, tem 88,5 metros de altura, 9,9 de circunferência, entre 400 e 600 anos e fica no Norte do Pará.

A árvore gigante foi identificada pela primeira vez em 2019, por meio de imagens de satélite. Mas, só em setembro de 2022 um grupo de pesquisadores do Pará e do Amapá conseguiu alcançá-lo. A Expedição Jari Paru 2, desdobramento de outra jornada realizada em 2019, percorreu mais de 200 quilômetros de rios cheios de corredeiras e pelo menos 20 quilômetros a pé pela floresta até, finalmente, estar diante do monumento de quase 90 metros.

A maior árvore da Amazônia fica na Floresta Estadual (Flota) do Paru. Uma área com 3,6 milhões de hectares que faz parte do maior bloco de áreas protegidas do mundo e é a terceira maior unidade de conservação de uso sustentável em uma floresta tropical no planeta. A região possui uma grande diversidade de paisagem, muitos rios, cachoeiras, áreas de montanhas e de savana. Contudo, mesmo com toda essa exuberância, a Flota do Paru foi a quinta unidade de conservação mais desmatada da Amazônia em outubro.

“A maior árvore da Amazônia fica na Floresta Estadual (Flota) do Paru. Uma área com 3,6 milhões de hectares que faz parte do maior bloco de áreas protegidas do mundo e é a terceira maior unidade de conservação de uso sustentável em uma floresta tropical no planeta.”

Jakeline Pereira, pesquisadora do Imazon

Segundo levantamento feito pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a Flota do Paru é uma das regiões mais ameaçadas no Brasil atualmente. No mês de outubro, somente o estado do Pará desmatou 351 km², 56% do que foi registrado em toda a Amazônia. De janeiro a outubro, foram derrubados quase 10 mil km² de floresta no bioma, o equivalente a mais de seis vezes a cidade de São Paulo. É o segundo pior acumulado dos últimos 15 anos, segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon.

A Flota do Paru tem potencial madeireiro, devido à floresta densa, e não madeireiro, como o extrativismo vegetal, principalmente de castanha-do-pará, do qual cerca de 300 pessoas na região vivem da coleta sustentável. Nos últimos anos, atividades criminosas, como a grilagem e o garimpo, aumentaram na Amazônia e também estão alcançando a área. A devastação que avança coloca em risco riquezas naturais, oportunidades econômicas e um patrimônio de todos os brasileiros: um santuário de árvores gigantes.

A gestão da Flota do Paru é de responsabilidade do governo do Pará. Por isso, a gestão estadual precisa cancelar imediatamente os Cadastros Ambientais Rurais (CARs) que estão sendo registrados ilegalmente dentro da unidade de conservação, para impedir a escalada do desmatamento e a atuação de grileiros e do garimpo ilegal. Também deve fiscalizar, controlar e monitorar a área, além de fomentar atividades econômicas sustentáveis que gerem emprego e renda. O pedido urgente de todos os brasileiros é: governador Helder Barbalho, #ProtejaAsArvoresGigantes.

Sobre o autor

É engenheira florestal pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e mestre em Manejo e Conservação de Florestas Tropicais e da Biodiversidade (Catie, Costa Rica).

Além disso, tem MBA em Gestão de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e é mestranda em Gestão de Áreas Protegidas na Amazônia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

Jakeline trabalha como pesquisadora do Imazon desde 2008, onde desenvolve ações relacionadas a gestão do maior bloco de Áreas Protegidas em florestas tropicais do mundo, com 22 milhões de hectares.

Sua principal atuação são nos temas de criação de Unidades de Conservação, instrumentos de gestão, diagnósticos socioambientais, meio físico e da biodiversidade, resolução de conflitos, ordenamento territorial, manejo de produtos florestais madeireiro e não-madeireiros, educação ambiental, turismo de base comunitária, gestão ambiental municipal e programas socioambientais empresariais, com foco ESG (ambiental, social e econômico).

É, também, autora do livro "A Floresta Habitada: história de ocupação humana na Amazônia", finalista do prêmio Jabuti, em 2015. Ela representa o Imazon na Coalizão Pró-Unidades de Conservação e em conselhos de 10 Unidades de Conservação.

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