Na Europa, acordo define lei que vai multar importação de produtos ligados ao desmatamento

Os números do último PRODES, sistema usado para medição anual do desmatamento amazônico (entre agosto de um ano e julho de outro), mostraram que a Floresta Amazônica perdeu mais de 11 mil km2, algo do tamanho do Catar da Copa do Mundo. Em relação ao período anterior, houve uma discreta redução. Mas quando se olha tudo o que foi medido via satélite dia a dia, alguns processos inéditos, como revela reportagem, emergem.

Um dos pontos que chamaram a atenção do InfoAmazonia foi o desmatamento no estado do Amazonas. Apesar de mais da metade da perda ter ocorrido em Pará e Mato Grosso, o fato é que a perda foi menor nesses estados. O Amazonas foi o único estado da Amazônia Legal onde o desmatamento aumentou. Fato inédito na história do monitoramento amazônico.

Com informa o repórter Leandro Chaves, o avanço da fronteira agrícola no sul do estado e de projetos de infraestrutura sobre a floresta, como a repavimentação da BR-319, explicam boa parte dos mais de 2.600 km² devastados no Amazonas entre agosto de 2021 e julho de 2022, período levado em conta para o cálculo da taxa anual de desmatamento.

“A intensificação do desmatamento no sul do Amazonas, especialmente em Apuí, Lábrea e Humaitá, mas subindo também para Novo Aripuanã, se dá principalmente pela proximidade dessa região com duas fronteiras do agronegócio, que são o Acre e Rondônia. Nesses dois estados o estoque de terras está praticamente se esgotando, o que ajuda a explicar a expansão da devastação no Amazonas”, comenta Mariana Napolitano, gerente de Ciências da WWF-Brasil.

Enquanto que para o geógrafo e diretor da Wildlife Conservation Society (WCS) no Brasil, Carlos Durigan, as Terras Públicas do Amazonas são a “bola da vez” dos alvos da expansão das atividades ilegais, como ocupação, desmatamento e queimadas. A ampliação da malha rodoviária na região, em especial a repavimentação da BR-319, que liga Manaus a Porto Velho, cortando o Amazonas ao meio, tem muito peso nos números detectados agora, segundo o especialista da WCS.

Quando se amplia o olhar de anos para décadas, fica nítido que a expansão do agronegócio e a disputa por terra – aliadas a todo tipo de crime que isso gera – são processos recentes de destruição da floresta. Levantamento feito pelo MapBiomas Amazônia, e repercutido, por exemplo, Brasil Norte Comunicação (BNC), a destruição da floresta amazônica brasileira chega a 19% nas últimas três décadas. Enquanto em 1985 apenas 6% da Amazônia havia sido transformada em pastagens, lavouras, garimpos ou áreas urbanas, em 2021, a área quase triplicou, chegando a 15%.O papel do agronegócio como força motriz do desmatamento merece toda a atenção, e não apenas em nível nacional. Se o uso da terra é o grande responsável pelas emissões brasileiras, a continuidade desses processos vai repercutir cada vez mais no exterior. A Europa, como atesta reportagem da Agência Reuters, acaba de definir os detalhes de uma legislação que vai multar empresas que comprarem produtos de cadeias de produção ligadas ao desmatamento. Na terça-feira, os legisladores europeus acertaram os termos da lei, que, agora, irá para aprovação do Parlamento. A partir daí, as grandes empresas terão 18 meses para se adequar às regras. Ou seja, terão que mostrar, por meio de documentos, a origem dos produtos que estão importando. As mudanças climáticas globais, e as conversas recentes do presidente eleito Lula com os americanos, como registra o O Globo, estarão cada vez mais no centro das discussões internacionais. 


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