Grupo de empreendedores trilha o caminho da bioeconomia na Amazônia; enquanto bancos franceses podem estar financiando o desmatamento

A segunda edição do Festival de Investimentos de Impacto e Negócios Sustentáveis na Amazônia – depois de ter ocorrido pela primeira vez em 2018 – joga foco sobre vários projetos de desenvolvimento sustentável em curso na região. E sobre como existe um grupo de investidores e empreendedores que estão buscando trilhar o fortalecimento de atividades voltadas para a bioeconomia. O evento, em curso na cidade de Manaus entre ontem e hoje (dias 29 e 30 de novembro) é repleto de expectativas, como relata o Um Só Planeta.

Na primeira edição, há quatro anos, antes da pandemia, o festival levantou R$ 1,1 milhão em rodadas de investimento. A programação deste ano, entretanto, traz 100 palestrantes, divididos em painéis, que vão abordar cinco trilhas temáticas: estruturação do ecossistema de empreendedorismo, acesso a capital, pesquisa e desenvolvimento, comunidades e desafios do empreendedorismo.

Por mais que exista uma cultura ganhando corpo, em relação principalmente ao empreendedorismo bioeconômico, os desafios e gargalos são muito maiores do que os resultados, como mostra a Folha. Hoje, a Amazônia brasileira gera um PIB (Produto Interno Bruto) de apenas R$ 660 bilhões (9% do PIB nacional) e enfrenta diversos problemas socioeconômicos. Entre os 6 estados com menor PIB do país, 5 estão na região. Na visão de Mariano Cenamo, cofundador do Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia), hoje é impossível desatrelar a floresta da base da economia da Amazônia.

Também falando à Folha, o especialista Salo Coslovsky, professor da Universidade de Nova York, afirma que um dos principais obstáculos para o desenvolvimento dos negócios florestais na Amazônia atualmente é a falta de organização dos produtores locais em sistemas organizados de produção. “Mesmo quando há cooperativas de extrativistas, falta um senso de coletividade entre elas, para que, juntas, possam obter recursos compartilhados”, afirma.

Tentando cobrir essa lacuna, o próprio Cenamo resolveu criar uma aceleradora de projetos na Amazônia, a Amaz. Até o momento, desde a criação da iniciativa em 2021, seis empresas foram aceleradas e existem outras seis que devem entrar no grupo em meses. Há vários exemplos, entre eles, o caso da Da Tribu, empresa social paraense de moda sustentável.

O Idesam também coordena o Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), idealizado pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) – instituição sempre cercada de polêmica quando o assunto é preservação do ecossistema amazônico. Criado em 2018, a iniciativa visa canalizar recursos das empresas para a bioeconomia local, como explica Vanessa Adachi no Reset. O papel do PPBio é fazer curadoria e captação de recursos dos projetos e operação de recursos de acordo com as normas da SUFRAMA. Os projetos podem ser executados nos estados da Amazônia Ocidental, informa outra reportagem do Portal g1.

Ao longo dessa curta história, o PPBIO assumiu a gestão de 20 projetos em 12 cadeias produtivas. No Banco de Projetos do programa – e vários dados estão disponíveis no site oficial – existem hoje mais de 200 iniciativas.

Segundo afirma ao g1 Paulo Simonetti, líder de captação do PPBio, o Programa funciona como um catalisador da transformação da qualidade de vida das comunidades ribeirinhas. “Ao longo da história, as cadeias produtivas da Amazônia, mesmo as mais importantes como a borracha, receberam pouco investimento em sua estruturação”, disse.

O cenário amazônico hoje, de uma forma geral, precisa ser cada vez mais equilibrado entre o desenvolvimento da bioeconomia e a fiscalização aos grandes grupos do agronegócio que também atuam na região e, nem sempre, 100% focados na preservação da floresta. Como mostra uma investigação jornalística aprofundada, divulgada pelo UOL, vários bancos franceses podem estar financiando atividades produtivas ligadas ao desmatamento tanto na Amazônia quanto no Cerrado brasileiro.


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