Em um cerco positivo, de um lado, o futuro governo trabalha para ampliar o leque de apoiadores do Fundo Amazônia, e de outro, cientistas apresentam plano ousado para reflorestar a Amazônia

Enquanto no Congresso a luta ainda é árdua frente aos riscos de aprovação do chamado “pacote de destruição”, no meio acadêmico e nas articulações internacionais do futuro governo a sinalização é de que os novos ares da restauração florestal já começam a soprar. A liberação do Fundo Amazônia por parte dos dois maiores doadores, a Noruega e a Alemanha, é dada como certa após a posse de Lula, e encontros bilaterais realizados durante a COP27, no Egito, indicam que novos doadores e aportes de recursos poderão chegar para contribuir com o combate ao desmatamento no Brasil, como mostra Jamil Chade, em sua coluna no UOL.

A transferência de recursos do Fundo, criado há mais de uma década, ficou travada desde 2019 por entraves colocados pelo governo Bolsonaro.

Um dos alvos buscados na COP pela equipe de Lula estão Estados Unidos, Reino Unido e Canadá. De acordo com o colunista, a deputada federal eleita Marina Silva reuniu-se com John Kerry, enviado especial de Joe Biden para o clima, e trataram do assunto. Os Estados Unidos teriam vontade antiga de colocar recursos na proteção florestal brasileira. Mesmo que os valores sejam modestos, a ideia é de que o apoio dos EUA seja visto como uma chancela para que outros doadores possam também aderir ao mecanismo de cooperação internacional para a proteção ambiental.

Outro país que também pode passar a ser doador do Fundo Amazônia, segundo a Agência Estado, é o Reino Unido. Durante a COP, informa a reportagem, o governo eleito do Brasil pediu formalmente que os britânicos considerassem aderir ao mecanismo financeiro de proteção da Amazônia. A Embaixada Britânica, inclusive, confirmou que recebeu o pedido, e que ele está sendo analisado.

Se, por um lado, existe a iniciativa para fortalecer o Fundo Amazônia, por outro, pesquisadores não apenas contabilizam os prejuízos à floresta causados pela gestão Bolsonaro, mas apresentam planos ousados de reflorestamento na região.

Um deles, também anunciado durante a Conferência do Clima da ONU, extrapola fronteiras. A ideia principal do projeto, desenvolvido por vários pesquisadores, entre eles o renomado cientistas Carlos Nobre, é a de criar um grande arco de restauração da floresta, que iniciaria na Colômbia, passaria por Peru e Bolívia e entraria no Brasil, se estendendo até o Maranhão. Em entrevista ao Valor, Carlos Nobre admite que é preciso ousadia para fazer essa estratégia dar certo. “Isso não custa pouco. Estamos falando de dezenas de bilhões de dólares. Precisamos trazer o mundo dos investimentos públicos e privados para fazer a restauração”, disse o climatologista brasileiro, co-chair do Painel Científico da Amazônia, em evento na COP 27. “Restaurar a floresta é essencial para o equilíbrio climático”, sentenciou.

Também no Valor, os cálculos de Bráulio Borges, economista sênior da LCA Consultores e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre), chamam a atenção. Segundo ele, o aumento do desmatamento e das emissões de gases de efeito estufa no Brasil no governo Bolsonaro (2019 a 2022) deve ter gerado um prejuízo econômico para o mundo de US$ 238 bilhões. Para chegar à  conta, ele analisou o cenário que ocorreu de 2018 até agora. Entretanto, se fosse mantida a tendência de queda no desmatamento e nas emissões iniciada em 2003, o ganho teria sido de US$ 818 bilhões. A reportagem, assinada por Anaïs Fernandes, discute a fundo o quanto o descaso com a Amazônia está impactando a economia mundial. Mais um motivo para que a virada de chave do governo Lula no Egito faça sentido.


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