Noruega sinaliza destravar o Fundo Amazônia; maioria dos governadores eleitos na Amazônia Legal apoia o bolsonarismo

Após a mais acirrada eleição presidencial do Brasil desde a redemocratização – o agora presidente eleito Lula venceu o atual presidente Bolsonaro por 50,9% a 49,1% dos votos válidos – alguns sinais já começaram a ecoar pelo mundo, tanto no campo climático quanto no das florestas. O mais importante deles, logo no início da segunda-feira, foi o anúncio de que a Noruega vai trabalhar para destravar o Fundo Amazônia, congelado desde que a dupla Ricardo Salles e Bolsonaro puseram em suspeita um dos mecanismos que vinham mostrando resultados na preservação da floresta.

Como mostra a DW, com Lula no Planalto a partir de janeiro, o país nórdico vai reativar os aportes financeiros. “Tivemos uma colaboração muito boa e próxima com o governo antes de Bolsonaro, e o desmatamento no Brasil caiu muito sob a presidência de Lula. Depois tivemos a colisão frontal com Bolsonaro, cuja abordagem era diametralmente oposta em termos de desmatamento”, explicou o ministro norueguês do Meio Ambiente, Espen Barth Eide. Segundo o político norueguês, o fundo tem hoje cerca de R$ 2,5 bilhões não utilizados. Ele anunciou que pretende entrar em contato com a equipe de Lula o mais rapidamente possível para preparar a retomada da cooperação.

Outros países da Europa, como mostra Assis Moreira no Valor, também aproveitaram as mensagens de parabéns enviadas ao novo presidente do Brasil – Lula é o primeiro a reocupar o cargo por meio do voto popular nas duas vezes – para direcionar quais temas devem pautar a relação entre as duas partes do mundo. Mudanças climáticas e comércio são os mais destacados. “A relação da UE com o Brasil está praticamente congelada há anos. O impeachment de Dilma Rousseff em 2016 nunca foi bem absorvido na Europa. Os europeus não quiseram nos últimos anos sequer marcar a cúpula UE-Brasil anual que tem o objetivo de aprofundar as relações bilaterais, supostamente estratégicas”, escreve Moreira, jornalista radicado há décadas em Genebra. Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, disse, em sua mensagem ao Brasil, estar ansiosa para trabalhar com o presidente eleito “para enfrentar os urgentes desafios globais, da segurança alimentar ao comércio e às mudanças climáticas”.

No seu próprio discurso após o resultado das eleições, Lula colocou a Amazônia entre as suas prioridades: “O Brasil está pronto para retomar o seu protagonismo na luta contra a crise climática, protegendo todos os nossos biomas, sobretudo a floresta amazônica. Em nosso governo, fomos capazes de reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia, diminuindo de forma considerável a emissão de gases que provocam o aquecimento global. Agora, vamos lutar pelo desmatamento zero da Amazônia. O Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva. Uma árvore em pé vale mais do que toneladas de madeira extraídas ilegalmente por aqueles que pensam apenas no lucro fácil, às custas da deterioração da vida na Terra. Um rio de águas límpidas vale muito mais do que todo o ouro extraído às custas do mercúrio que mata a fauna e coloca em risco a vida humana.

Quando uma criança indígena morre assassinada pela ganância dos predadores do meio ambiente, uma parte da humanidade morre junto com ela. Por isso, vamos retomar o monitoramento e a vigilância da Amazônia e combater toda e qualquer atividade ilegal — seja garimpo, mineração, extração de madeira ou ocupação agropecuária indevida.

Ao mesmo tempo, vamos promover o desenvolvimento sustentável das comunidades que vivem na região amazônica. Vamos provar mais uma vez que é possível gerar riqueza sem destruir o meio ambiente. Estamos abertos à cooperação internacional para preservar a Amazônia, seja em forma de investimento ou pesquisa científica. Mas sempre sob a liderança do Brasil, sem jamais renunciarmos à nossa soberania.

Temos compromisso com os Povos Indígenas, com os demais Povos da Floresta e com a biodiversidade. Queremos a pacificação ambiental. Não nos interessa uma guerra pelo meio ambiente, mas estamos prontos para defendê-lo de qualquer ameaça”, disse o presidente eleito, como registrou a Folha, a partir de um discurso redigido por sua equipe da campanha.

Se as intenções são, até aqui, apenas uma indicação importante de que o tema ambiental e o dos Povos Originários estarão entre as prioridades do próximo governo, o mundo real é bem diferente. Além de um Congresso majoritariamente de centro-direita, Lula também terá que negociar com governadores da Amazônia Legal que apoiam o bolsonarismo.

Dois estados da região tiveram segundo turno para o governo estadual. No Amazonas, venceu Wilson Lima (União Brasil), apoiador de Bolsonaro. Em Rondônia, o vitorioso nas urnas é o também bolsonarista Coronel Marcos Rocha (União). Com isso, haverá seis estados bolsonaristas na Amazônia Legal e quatro Lulistas, como informa o UOL.

“O combate ao desmatamento é liderado pelo governo federal. Os governadores são atores que ajudam no processo, mas atrapalhar podem muito”, diz Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima. “Em alguns casos é o pior quadro possível, em que ajudaram Bolsonaro a proteger o crime ambiental”, afirmou o especialista às jornalistas Camila Turtelli e Letícia Casado.


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