Estudos e propostas concretas apontam o caminho para que o futuro presidente retome a proteção da Amazônia

Na visão da rede Uma Concertação pela Amazônia, os primeiros 100 dias do novo governo serão absolutamente essenciais para a maior floresta tropical do mundo. Tanto que a instituição, em conjunto com a RAPS (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), acaba de lançar um documento que bem que poderia ser um dos livros de cabeceira do futuro presidente. A iniciativa, apresentada em evento em São Paulo nesta quarta-feira (26/10) e disponível no canal do YouTube do jornal Estadão, propõe ações concretas que poderiam ser usadas para destravar o desenvolvimento sustentável da região amazônica.

“[O início do mandato] representa um momento de renovação, no qual os eleitos contam com a máxima confiança da sociedade para implantar políticas e mudanças necessárias”, diz o documento. “Abre-se, portanto, a oportunidade para se estabelecer uma boa governança e adotar medidas inadiáveis”, escreve Ana Carolina Amaral, na Folha. Ao jornal, Roberto Waack, cofundador da Concertação, explica que uma das medidas imediatas que poderiam ser tomadas é a criação de uma Secretaria Especial de Emergências Climáticas ligada diretamente à Presidência. “Se a secretaria tiver suporte político de verdade, poderá ter papel na alavancagem dos demais [instrumentos propostos] e fazer a agenda integrada para a Amazônia dar certo”, afirma Waack.

No evento apresentado pelo Estadão ficou claro que não existe solução para a Amazônia sem a participação da sociedade local, ainda mais se os problemas urbanos da região, como conectividade digital, não forem resolvidos. Hoje, 76% da população da Amazônia Legal vive em áreas urbanas.

Outra questão amazônica importante é fazer circular a ideia de que não existe nenhuma dicotomia entre atividades produtivas e preservação ambiental. A Concertação defende que ambas podem ocorrer mantendo a floresta em pé. A agropecuária, de acordo com o documento, pode ser feita em milhões de hectares que já foram desmatados, mas que estão abandonados hoje. “Aqui, na minha avaliação, está a maior oportunidade da nação. É uma área maior que a França que, se você torna produtiva em um nível razoável, pronto. Acabou o jogo. A Amazônia se tornou próspera”, disse o empresário Denis Minev, durante o evento. O discurso de especialistas, empresários e membros do terceiro setor vai contra, por exemplo, a tese difundida pelo atual presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro de que, por exemplo, a demarcação de mais terras indígenas vai acabar com o agronegócio. Como mostra o InfoAmazonia, essa afirmação está longe de ser verdadeira.

Quanto às eleições do próximo domingo (30/10), as vozes especializadas em Amazônia, tanto no Brasil quanto no exterior, estão tomando posição. Embora o documento lançado pela Concertação sirva para ambos os candidatos à Presidência, o histórico mostra que um tem muito mais potencial do que o outro para tirá-lo do papel. Esta semana, a revista Nature, uma das publicações científicas mais reconhecidas internacionalmente, publicou um editorial defendendo o voto na chapa encabeçada pelo ex-presidente Lula.

“Nenhum líder político chega perto de ser perfeito, mas os últimos quatro anos do Brasil são um lembrete do que acontece quando aqueles que elegemos desmantelam ativamente as instituições destinadas a reduzir a pobreza, proteger a saúde pública, impulsionar a ciência e o conhecimento, proteger o meio ambiente e defender a justiça e a integridade das evidências. Os eleitores do Brasil têm uma oportunidade valiosa para começar a reconstruir o que Bolsonaro derrubou. Se Bolsonaro pegar mais quatro anos, o dano pode ser irreparável”, afirma o editorial da revista britânica.