Em sabatina a veículos de mídia, presidente volta a dizer que fez de tudo para controlar o desmatamento na Amazônia

Perguntado sobre o desmatamento da Amazônia em sabatina feita por alguns veículos de comunicação, Bolsonaro, mais uma vez, voltou a falar de seu mundo paralelo. Logo no começo, lendo um gráfico, fez questão de afirmar, sem dar nenhum tipo de contexto, e ao contrário do que mostra essa reportagem do InfoAmazonia, que os números do governo são melhores do que os do governo do ex-presidente Lula.

Na esteira dos números oficiais sobre a destruição da maior floresta tropical do planeta uma outra história veio à tona nos últimos dias, a partir de uma reportagem do jornal O Globo. E ela mostra como é o modus operandi do atual governo.

O ex-diretor do INPE Ricardo Galvão afirma que houve a criação de um grupo de trabalho contra ele em Brasília, que envolveu, inclusive, grampos telefônicos. Tudo por causa dos dados oficiais gerados pelo Instituto que ele presidia sobre o desmatamento amazônico. 

Como os números eram ruins para o atual governo, a primeira estratégia montada a partir da Capital Federal envolvia desqualificar o trabalho científico, e histórico do INPE. Para isso, qualquer informação contra Galvão ajudaria na retórica de expulsá-lo da direção do órgão de pesquisa. Como nada foi encontrado, mostra a reportagem, Bolsonaro, mesmo assim, decidiu pela demissão – e por provocar vergonha alheia na comunidade científica.

Na resposta da sabatina, Bolsonaro também colocou parte da culpa por não ter conseguido – na visão dele – fazer mais contra o desmatamento na falta de recursos financeiros e em um orçamento que, ao invés de ser secreto, seria “engessado”.

Como não poderia deixar de ser, nenhuma menção a instrumentos internacionais, como o Fundo da Amazônia, que o atual governo fez questão de travar por completo, muito por conta da atuação do ex-ministro do Meio Ambiente e futuro deputado federal Ricardo Salles.

Existe inclusive uma ação de partidos de oposição que está sendo julgada pelo Plenário do STF sobre o tema. Nesta quarta-feira (26) espera-se que o julgamento continue, como detalha o ConJur. Tanto no Fundo Amazônia quanto no Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (Fundo Clima) existem R$ 1,5 bilhão parados. Recursos que, desde que existisse vontade política, poderiam ter sido usados diretamente em projetos de preservação da Amazônia.

Por todos esses fatores – aliados a um ainda mais grave, o que vai contra a saúde do planeta – é que o colunista Mathias Alencastro escreve na Folha que, se a política ambiental de Bolsonaro continuar em um eventual segundo mandato, o Brasil encararia a maior ameaça à sua soberania nacional desde a Independência. Isso porque, hoje, a saúde da Amazônia interessa aos demais países, algo que ficou bem claro, diz o pesquisador, quando, por exemplo, o governo Biden colocou o clima como um pilar central da segurança internacional na Estratégia de Segurança Nacional divulgada na semana passada.

Os Estados Unidos, assim como a União Europeia, já começaram a caminhar no sentido de restringir a importação de commodities oriundas de áreas desmatadas a partir de dezembro de 2020, como informa Assis Moreira no Valor. Medida que pode vir a impactar até 10% das exportações brasileiras para o mercado norte-americano.


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