No primeiro debate eleitoral do segundo turno, presidente Bolsonaro manda “Dar um Google’, quando Lula o acusou de destruir a floresta

O tema do desmatamento da Amazônia ocupou alguns instantes do primeiro debate eleitoral do segundo turno realizado na noite de domingo entre os candidatos Lula e Bolsonaro. O atual presidente mandou o líder petista “Dar um Google”, quando foi acusado de destruir a Amazônia e de não se preocupar com a questão do clima. Segundo o candidato do PL, Lula, quando governou o Brasil, entre 2003 e 2010, também havia lidado com altas taxas anuais de destruição florestal.

Os números oficiais, na realidade, mostram que durante o governo do presidente Lula realmente a média anual de desmate florestal na Amazônia atingiu níveis superiores aos dos anos mais recentes, em que o presidente Bolsonaro ocupa o Planalto. Mas são números, como mostra O Globo, que precisam ser contextualizados, algo que Bolsonaro, durante o acalorado debate, não se preocupou nem um pouco em fazer.

“O governo Lula de fato teve a maior média anual de desflorestamento em seu governo, mas pegou o indicador em alta e o entregou na mínima histórica, em 2010. Já Bolsonaro recebeu o indicador em um patamar menor e, nos três primeiros anos de seu governo, houve uma disparada”, escreve o jornalista Ivan Martínez-Vargas.

Em termos numéricos, a média anual dos dois governos Lula foi 15,7 km², contra 11,3 mil km² de média nos três primeiros anos da gestão de Jair Bolsonaro. Lula, porém, reduziu o desmatamento em 61%, enquanto Bolsonaro o aumentou em 73%. Nos governos do petista, a taxa começou a despencar, ano a ano, já a partir de 2004. Em 2010, último ano de Lula no poder, a média bateu 7 mil km², a mínima histórica até então. 

Durante a primeira gestão da ex-presidenta Dilma, principalmente nos dois primeiros anos do governo, o desmatamento seguiu uma forte tendência de queda e bateu nos 4,6 mil quilômetros quadrados. A média anual, então, passou a oscilar nos anos seguintes e terminou 2015 em alta, chegando aos 6,2 mil quilômetros quadrados.

Como destaca a reportagem do UOL, na prática, o menor índice de desmatamento ocorreu no governo Dilma. Mas a política de comando e controle aplicada pela ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, ainda no governo Lula, é que foi decisiva para a obtenção dos resultados. O plano implementado para o controle do desmatamento gerou bons resultados por vários anos. 

O fato de Lula e Bolsonaro terem herdado heranças diferentes em relação à destruição florestal tem uma papel central na análise dos dados. Quando Lula foi eleito, o desmatamento na Amazônia foi de 21.650 km². Já em 2018, quando Bolsonaro se elegeu, a taxa foi de 7.536 km², quase três vezes menor. Comparar apenas as médias, como fez Bolsonaro no debate, esconde o mais importante. Ou seja, quem trabalhou, de fato, para segurar os índices de desmatamento.

O que Bolsonaro também deixou passar batido – e este, segundo os especialistas, é o grande problema da Amazônia hoje – são as perspectivas de futuro. O Nexo, nesta aprofundada reportagem sobre as consequências atuais do desmatamento – vai direto ao ponto. Se as taxas registradas pelos sistemas oficiais de monitoramento continuarem na mesma toada, em dez anos, a maior floresta tropical do planeta terá muito provavelmente atingido o seu ponto de não retorno. Ou seja, a mudança do bioma, na direção de algo mais árido, vai ter impactos gigantescos para o planeta, para as comunidades locais e para todo o agronegócio brasileiro. Vai chover cada vez menos, por exemplo, no Centro Oeste, onde estão as grandes propriedades produtoras de grãos, como a soja.

O raciocínio que emerge das taxas de desmatamento da Amazônia também se aplica à quantidade de queimadas registrada durante os governos do PT e o governo Bolsonaro. Como mostra essa reportagem do InfoAmazonia, o PL, partido do presidente Bolsonaro, fez um filme na plataforma Youtube distorcendo a realidade sobre os dados de queimada na Amazônia desde 2003, quando Lula assumiu a presidência pela primeira vez.


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