Amazônia teve o pior setembro desde 2015 em termos de desmatamento, atestam os dados do INPE

O sistema DETER, do INPE, registrou o desmatamento de 1.454 quilômetros quadrados de floresta amazônica em setembro de 2022. Com essa marca, o mês passado tornou-se o pior da série histórica do instituto ligado ao governo federal.

O INPE, como contextualiza Phillippe Watanabe na Folha, monitora a floresta há muito tempo, mas, por causa dos sensores usados para a detecção, os dados só podem ser comparados a partir de 2015. Desde aquele ano, portanto, um mês de setembro não havia sido tão trágico em termos de desmate florestal.

Este valor superou por pouco os 1.453 quilômetros quadrados que haviam sido registrados em setembro de 2019, que era, portanto, o pior mês de setembro identificado pelos dados do INPE até então. Na comparação entre os meses de setembro de 2022 e 2021, houve uma explosão no índice de 48%. A derrubada registrada em setembro de 2022 equivale a mais de 900 Parques Ibirapuera, em São Paulo, como estima a Folha.

O desmatamento em 2022 tem sido elevado. De abril até agora, mais de 7,6 mil km² de floresta Amazônica foram ao chão, com quatro meses seguidos registrando mais de 1.000 km² derrubados.

Todo esse processo de desmatamento na Amazônia, inclusive, vem gerando votos para o presidente Jair Bolsonaro, que tenta a reeleição. Uma análise feita pelo MapBiomas a pedido do jornal O Globo não deixa dúvidas da sinergia que existe entre os municípios que estão no arco do desmatamento e o apoio a Bolsonaro. O presidente, desde que assumiu, vem cumprindo com sua promessa de fragilizar a política ambiental nacional.

Na Amazônia Legal, o candidato à reeleição venceu, por exemplo, em 265 municípios que, juntos, concentram 70% das áreas desflorestadas nas últimas três décadas, mostra o estudo que sustenta a reportagem assinada por Marlen Couto, Rafael Galdo, Bruno Abbud e Eduardo Gonçalves. O mesmo levantamento revela que o petista, por sua vez, liderou a corrida nos demais 499 municípios da região, onde estão 30% das áreas desmatadas.

“Quando o governo federal reduz ou cancela multas, dá o sinal da impunidade. E, para essa região onde está reinando a ilegalidade, a impunidade é vista como um benefício. Para quem ocupa a terra de forma predatória, há um entendimento equivocado de que o bom é ter no governo quem deixa o desmatamento rolar solto. Mas isso tem impacto: diminui a floresta e as chuvas, e, no futuro, afeta todos nós. Há uma avaliação individualista a curto prazo”, afirma Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas.

O que os satélites e os cruzamentos de dados entre desmatamento e votos estão detectando agora é, na verdade, a consequência de todo um projeto de poder que se arrasta desde a posse do atual governo. Ao olhar para os quatro anos de praticamente ausência de política ambiental na Amazônia, o que emerge é um total de 47 mil quilômetros quadrados de destruição florestal, como relata André Borges no Estadão

O número representa o total da área destruída segundo as estimativas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) entre 2019 e 2022 e é 60% maior do que o registrado nos quatro anos anteriores nos governos Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).

Pelos cálculos da reportagem, a área desmatada na gestão Bolsonaro é maior do que todo o estado do Rio de Janeiro, por exemplo, com seus 43 mil km². Se esse estrago for comparado com a extensão da cidade de São Paulo, equivale a dizer que, durante o governo do atual presidente, uma área de floresta equivalente à capital paulista foi desmatada a cada 45 dias.

A comparação entre os quatro anos com Bolsonaro no poder com os quatro anos imediatamente anteriores, 2015 a 2018, mostra como as motosserras estão funcionando em alta velocidade. No quadriênio anterior haviam sido registrados 28.583 quilômetros quadrados, portanto um índice 34% menor. Ao Estado, Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, disse que há possibilidade de a “tragédia aumentar ainda mais”, uma vez que Bolsonaro, caso reeleito, não tem sinalizado para uma mudança de políticas de preservação da floresta.


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