Para jornal Le Monde, pleito do dia 30 de outubro tem importância mundial devido à política declaradamente antiambiental do presidente Bolsonaro

O experiente correspondente do jornal Valor em Genebra, Assis Moreira, fez um apanhado analítico sobre a repercussão do primeiro turno da eleição brasileira, principalmente na Europa. Grande parte dos principais jornais daquele continente atrela a questão ambiental à decisão de milhões de brasileiros em colocar, frente a frente, o atual presidente da República e o ex-presidente Lula no segundo turno, no dia 30 de outubro.

O francês Le Monde, por exemplo, classificou o impacto da eleição no Brasil como mundial, uma vez que o presidente Bolsonaro conduziu, de forma deliberada, uma política antiambiental em seus quatros anos de governo. O espanhol El País vai na mesma direção. Segundo o periódico ibérico, uma vitória de Lula “também seria crucial para o futuro da Amazônia e do planeta, dado seu papel como regulador de temperatura”.

Em entrevista a Moreira, o professor Gaspard Estrada, da Universidade Sciences Po, de Paris, constata que Bolsonaro tornou-se “tóxico” para outros governos. Gaspard avalia que, com Lula, o Brasil sairia da rota de uma “internacional ultraconservadora”, que vai da Itália à Hungria e baseia-se na crítica virulenta do lugar da China na cena internacional, no apoio irredutível à política israelense, no desprezo pela Europa e pelas organizações internacionais, e na luta contra os regimes da Venezuela, Cuba e Nicarágua.

Em um momento em que o Banco Mundial afirma que o futuro presidente brasileiro, qualquer que seja ele, terá de se comprometer com o combate às mudanças climáticas globais, também é interessante entender qual papel o Brasil deverá ter no mundo nos próximos anos, já contando, inclusive, com os resultados das eleições para o Congresso Nacional. Como aborda o New York Times, a extrema-direita mostrou mais força do que as pesquisas indicavam e, apesar da vitória do ex-presidente Lula ainda ser mais provável, o segundo turno será uma eleição equilibrada. Se, de um lado, nunca houve uma virada entre o primeiro e o segundo turno desde a redemocratização, também nunca houve uma diferença tão apertada entre os dois candidatos, ressalta o jornal norte-americano.

Ainda em relação ao papel do Brasil no mundo, a análise do cientista político e professor de Relações Internacionais da FGV, Oliver Stuenkel, publicada no Estadão, vai direto ao ponto, ao analisar a composição do Congresso Nacional nessas eleições. “O forte desempenho de candidatos como Ricardo Salles, um dos deputados mais votados no estado de São Paulo, dificultará as tentativas de um possível governo Lula transformar o Brasil em um dos atores globais no combate ao desmatamento”, acredita. Segundo o especialista, existe uma simbologia forte que emerge da composição do novo Congresso. “Não passou despercebido no exterior que Salles, ex-ministro do Meio Ambiente, persona non grata em Washington, Berlim e Oslo, ganhou muito mais votos do que Marina Silva, ícone mundial no combate às mudanças climáticas, e que outros candidatos ambientalistas, como a deputada Joênia Wapichana, primeira mulher indígena na Câmara, não conseguiram se reeleger. Ricardo Galvão, ambientalista conhecido no exterior, também não se elegeu”.

Em tempo

Como registra a Folha, o empenho da cúpula do IBAMA em assegurar a impunidade de infratores ambientais continua. A presidência do Instituto é ocupada, atualmente, por Eduardo Fortunato Bim, colocado no cargo por indicação do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL). A estratégia é deixar correr os prazos para que as infrações prescrevam. A ofensiva, desta vez, pode atingir 45 mil processos, cujas autuações somam R$ 18,8 bilhões. De acordo com a Procuradoria Federal, a autoridade responsável pelo julgamento de recursos vem declarando a prescrição de multas por entender que determinados despachos nos processos não interrompem a contagem de prazos para prescrição. Na prática, havia certas decisões legais que impediam que a prescrição, ou seja, a impossibilidade de o infrator ser punido, ocorresse. Agora, entretanto, o julgamento de recursos tem seguido um outro curso, culminando com a suspensão das multas. Cabe ao presidente do IBAMA julgar os recursos atrelados aos processos de multas por infrações ambientais.


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